quarta-feira, 27 de junho de 2012

Da tortura à presidência

Dilma Rousseff tinha 22 anos quando foi presa por agentes da ditadura militar. O ano era 1970; levada às dependências da Oban (Operação Bandeirantes), foi submetida a espancamentos, choques elétricos e sessões no pau de arara.
Além da tortura física, o terror psicológico era constante. "Você vai ficar deformada, ninguém vai te querer", disseram-lhe os carrascos. Dilma foi ainda submetida a uma encenação de fuzilamento. "Lembro-me do medo quando minha pele tremeu. Tem um lado que marca a gente pelo resto da vida".
O depoimento não difere, por certo, dos prestados por tantas outras vítimas da repressão organizada pelo regime militar. Mas chama a atenção o fato de quem o prestou ser a atual presidente do país, e de só agota ter vindo a público.
Num ambiente político em que, com tanta frequência, o termo "revanchismo" é invocado, vale assinalar a reserva com que foi tratada, nos últimos anos, a dramática experiência pela qual Dilma Passou. Seria fácil explorá-la politicamente, numa espécie de sentimento macabro.
Quando foi presa, Dilma era dirigente da Vanguarda Armada Revolucionária Palmares, organização que realizava assaltos com vistas ao financiamento de ações militares contra o regime. As atividades do grupo resultaram na morte de pessoas inocentes.
Não há por que nagar, nesta altura, a estupidez desse tipo de ação. A Lei da Anistia, porém, encerrou o debate sobre responsabilidades criminais de todos os envolvidos. Não apagou, entretanto, a memória de ninguém. Lendo-se depoimentos como o de Dilma, parecia implausível que alguém submetido á tortura e terror tivessem condições psicológicas para seguir em frente, tanto na vida pessoal como na rotina da atuação política.
Na área política, contudo, só avança quem se dispõe a conviver com adversários, eliminar ressentimentos, dedicar-se á negociação. Dilma provou-se capaz disso. Por mais que se assinalem traços mais ásperos em seu temperamento, sua atuação não tem sido pautada por rancor nem por ânimo retaliatório.
A maturidade política dessa atitude não deixa de refletir, na verdade, o amadurecimento da democracia no Brasil. Ainda assim, também de um ponto de vista pessoal, Dilma Rousseff se engrandece com a tardia divulgação de seu depoimento.
___________________________
Fonte: Agência de Notícia Jornal Floripa

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Todos os comentários que não contiverem ofensas e termos inadequados serão autorizados.