terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Uma informação, por favor.*

Quando eu era criança, bem novinho, meu pai comprou o primeiro telefone da nossa vizinhança. Eu ainda me lembro daquele aparelho preto e brilhante que ficava na cômoda da sala. Eu era muito pequeno para alcançar o telefone, mas ficava ouvindo fascinado enquanto minha mãe falava com alguém.
Então, um dia descobri que dentro daquele objeto maravilhoso morava uma pessoa legal. O nome dela era "Uma informação, por favor", e não havia nada que ela não soubesse. "Uma informação, por favor" poderia fornecer qualquer número de telefone e atá a hora certa.
Minha primeira experiência com esse gênio-da-garrafa veio num dia em que minha mãe estava fora, na casa de um vizinho. Eu estava na garagem mexendo na caixa de ferramentas quando bati em meu dedo com um martelo. A dor era terrível, mas não havia motivo para chorar uma vez que não tinha ninguém em casa para me oferecer a sua simpatia.
Eu andava pela casa, chupando o dedo dolorido até que pensei: o telefone!
Rapidamente fui até o porão, peguei uma pequena escada que coloquei em frente à cômoda da sala. Subi a escada, tirei o fone do gancho e segurei contra o ouvido.
Alguém atendeu e eu disse:
-Uma informação, por favor.
Ouvi uns dois ou três cliques e uma voz suave e nítida falou em meu ouvido:
-Informações.
-Eu machuquei meu dedo... - disse, e as lágrimas vieram facilmente, agora que eu tinha audiência.
-A sua mãe não está em casa? - ela perguntou.
-Não tem ninguém aqui... - eu soluçava.
-Está sangrando?
-Não - respondi - eu machuquei o dedo com o martelo, mas tá doendo...
-Você consegue abrir o congelador? - ela perguntou.
Eu respondi que sim.
-Então pegue um cubo de gelo e passe no seu dedo - disse a voz.
Depois daquele dia, eu ligava para "Uma informação, por favor" por qualquer motivo.
Ela me ajudou com as minhas dúvidas de geografia e me ensinou onde ficava a Philadelphia. Ela me ajudou com os exercícios de matemática. Ela me ensinou que o pequeno esquilo que eu trouxe do bosque deveria comer nozes e frutinhas. Então, uma dia, Petey, meu canário, morreu.. Eu liguei para "Uma informação, por favor" e contei o ocorrido. Ela escutou e começou a falar aquelas coisas que se dizem para uma criança que está crescendo. Mas eu estava inconsolável. Eu perguntava:
-Por que é que os passarinhos cantam tão lindamente e trazem tanta alegria pra gente para, no fim, acabar como um monte de penas no fundo de uma gaiola?
Ela deve ter compreendido a minha preocupação, porque acrescentou mansamente:
-Paul, sempre lembre que existem outros mundos onde a gente pode cantar também...
De alguma maneira, depois disso eu me senti melhor. No outro dia, lá estava eu de novo.
-Informações - disse a voz já tão familiar.
-Você sabe como se escreve "exceção"?
Tudo isso aconteceu na minha cidade natal ao norte do Pacífico. Quando eu tinha nove anos nós nos mudamos para Boston. Eu sentia muita falta da minha amiga. "Uma informação, por favor" pertencia aquele velho aparelho telefônico preto e eu não sentia nenhuma atração pelo nosso novo aparelho telefônico branquinho que ficava na nova cômoda na nova sala. Conforme eu crescia, as lembranças daquelas conversas infantis nunca saiam da minha memória. Freqüentemente, em momentos de dúvidas ou perplexidade, eu tentava recuperar o sentimento calmo de segurança que eu tinha naquele tempo.
Hoje eu entendo como ela era paciente, compreensiva e gentil ao perder tempo atendendo as ligações de um molequinho. Alguns anos depois, quando eu estava indo para a faculdade, meu avião teve uma escala em Seattle. Eu teria mais ou menos meia hora entre os dois vôos. Falei ao telefone com minha irmã, que morava lá, por quinze minutos.
Então, sem mesmo sentir que estava fazendo isso, disquei o número da operadora daquela minha cidade natal e pedi:
-Uma informação, por favor.
Como num milagre, eu ouvi a mesma voz doce e clara que conhecia tão bem, dizendo:
-Informações.
Eu não tinha planejado isso, mas me peguei perguntando:
-Você sabe como se escreve exceção?
Houve uma longa pausa.
Então veio uma resposta suave:
-Eu acho que o seu dedo já melhorou, Paul.
Eu ri:
-Então é você mesma!
Eu disse:
-Você não imagina como era importante pra mim aquele tempo.
-Eu imagino - ela disse - e você não sabe o quanto significava pra mim aquelas ligações. Eu não tenho filhos e ficava esperando todos os dias que você ligasse.
Eu contei para ela o quanto pensei nela todos esses anos e perguntei se poderia visitá-la quando fosse encontar a minha irmã.
-É claro! - ela respondeu - venha até aqui e chame pela Sally.
Três meses depois eu fui a Seattle visitar minha irmã. Quando liguei uma voz diferente respondeu:
-Informações.
Eu pedi para chamar Sally.
-Você é amigo dela? - a voz perguntou.
-Sou um velho amigo. O meu nome é Paul.
-Eu sinto muito, mas a Sally estava trabalhando aqui apenas meio período porque estava doente. Infelizmente ela morreu há cinco semanas.
Antes que eu pudesse desligar, a voz perguntou:
-Espere um pouco. Você disse que o seu nome é Paul?
-Sim.
-A Sally deixou uma mensagem para você. Ela escreveu e pediu para eu guardar caso você ligasse. Eu vou ler para você.
A mensagem dizia:
"Diga a ele que eu ainda acredito que existem outros mundos onde a gente pode cantar também. Ele vai entender."
Eu agradeci e desliguei. Eu entendi...
NUNCA SUBESTIME A "MARCA" QUE VOCÊ DEIXA NAS PESSOAS!
__________________
Autor desconhecido

sábado, 25 de dezembro de 2010

Pense nisso:

"Desrespeitando os fracos, enganando os incautos, ofendendo a vida, explorando os outros, discriminando o índio, o negro, a mulher, não estarei ajudando os meus filhos a ser sérios, justos e amorosos da vida e dos outros." (Paulo Freire - Pedagogia da indignação)

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

O Espírito do Natal

Numa das ruas mais quietas do bairro, quase encostado à histórica ponte, tinha um casebre onde morava o velho Quaresma.
Ele costumava sair de madrugada empurrando uma carroça que ao longo do caminho enchia de papel velho. Voltava para casa por volta do meio-dia após vender sua carga ao depósito da fábrica de celulose.
Ninguém o via mais até o dia seguinte e isso constituía um grande mistério, especialmente para as crianças. Algumas pensavam até que ele não era desse mundo.
No fundo do casebre havia uma pequena horta, escondida atrás de um alto muro gretado. Lá o velho Quaresma plantava legumes e hortaliças, lá olhava crescer os cachos de bananas, as primeiras laranjas, as folhas de alface, os tomates. Lá ele vivia sua imensa solidão.
Ninguém visitava o velho Quaresma, ninguém falava com ele. Dir-se-ia que fazia parte dos muros gretados, das janelas e portas encardidas pela poeira dos anos. Mais que uma pessoa ele era uma lenda representando o fim lento das coisas.
O jovem carteiro que entregava correspondência naquele bairro, não lembrava de ter entregue jamais um cartão de Aniversário ou de Boas Festas para ele. Será que o velho Quaresma tinha ultrapassado qualquer possibilidade de relacionamento humano?
O Natal estava chegando e trazendo em seu bojo a mensagem de paz e fraternidade entre os homens. O carteiro vivia assoberbado de trabalho com sua bolsa de couro repleta de cartas e cartões. Dois dias antes da Festa, após uma copiosa entrega, parou no limiar da ponte olhando a porta fechada do casebre. Ele sabia que o Quaresma estava lá dentro.
O carteiro tinha muita fantasia e imaginava o velho sentado numa banqueta ao lado da morte.
Alguns meninos e meninas passaram pedalando e o eco de seus gritos e risadas pareciam esbarrar contra o muro gretado do casebre. O carteiro, afanosamente, procurou entre as cartas que tinha ainda na bolsa. Quem sabe, no fundo poderia encontrar um cartão, tão pequeno ao ponto de ter escapado à sua atenção. Um cartão endereçado ao velho Quaresma. Mas não havia.
Então um pensamento fulmíneo atravessou-lhe a mente. Rápido, montou em sua bicicleta, acabou o resto da entrega e foi para casa.
Aí preparou um cartão de Natal enfeitado com gránulos prateados, escreveu no envelope o endereço e voltou para a rua onde o velho morava. Bateu de porta em porta pedindo a todos os meninos que encontrava para assinar o cartão. - "Vamos lembrar o velho Quaresma" - dizia o carteiro - "o Natal vem para ele também".
Recolheu cinqüenta assinaturas.
Mais tarde, aproximou-se do casebre, jogou a carta debaixo da porta e sumiu.
Quando o velho Quaresma viu aquele retângulo branco no chão, ficou surpreso: Seria talvez uma burla? Um gracejo de mal gosto?
Cautelosamente apanhou o envelope e, após abrí-lo, sentiu uma onda de calor subir em sua face emperdenida. O cartão dizia assim: "Para o mais velho amigo da cidade, os votos celestes de amor e paz de todos aqueles que em silêncio te amam".
Embaixo, as cinqüenta assinaturas de meninos e meninas transformavam aquele humilde cartão numa página de glória.
O velho Quaresma apoiou-se à parede e chorou silenciosamente. Pela primeira vez deu-se conta que não morava numa região desolada, repleta de papel velho, mas na terra dos homens. Agora precisava preencher aquele grande silêncio que durava há muitos anos! Por isso retirou de uma gaveta suas pequenas economias e saiu às pressas de casa.
Os transeuntes ficaram admirados em ver o velho Quaresma andar até o supermercado naquela hora insólita.
No dia de Natal algo inusitado aconteceu no casebre: A calçada estava bem varrida, as janelas e as portas escancaradas. Um galho de laranjeira, erguido num caixote no meio da casa, parecia uma verdadeira árvore de Natal, com velinhas e enfeites de papel colorido. E, grande maravilha, o velho Quaresma de camisa limpa e barba feita, distribuindo bombons e bichinhos de plásticos a todas as crianças.
Muita gente juntou-se na frente do casebre..Houve abraços e salvas de palmas. O jovem carteiro, apoiado ao anteparo da ponte, sentiu-se gratificado e feliz: afinal, ninguém pode viver para si mesmo.
O espírito do Natal, como o som de uma flauta, expandía-se em volta do casebre e tomava conta do bairro. Jesus pequenino renascia outra vez para todos.
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Extraído do Jornal Diário de Natal - edição de 22 de dezembro de 1991

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Gentílico campestrense (por Joel dos Anjos)

Viajo em ti, Campestre,
para te reencontrar.
Refaço os teus caminhos
para redescobrir os teus sonhos
guardados em casa alpendrada*
quando eras ainda semente,
esboço, vaga promessa...
Viajo em ti, Campestre,
e me reencontro.
Refaço os teus caminhos
e me redescubro
porque somos homem e terra
e somos um só.
Temos uma só alma,
somos dotados da mesma vontade,
dos mesmos sonhos,
dos mesmos ideais.
O que te engrandece me faz maior,
o que te impulsiona
também me preenche de estímulo,
o que te eterniza
faz de mim imortal.
Viajo em ti, Campestre,
incessante viajor
a recompor a tua História.
Venho de muito longe:
- Sou José Antônio**
audaz pioneiro.
À margem do teu rio
ergui minha morada;
mas também sou muitos:
andante, peregrino, hóspede de Fisa,***
poeta do povo a cantar a vida.
Ah, como esta hora é passada!
Longínqua paisagem
guardiã do tempo e da memória.
Viajo em ti, Campestre!
Busco não um motivo para amar-te,
mas um modo de dizer-te;
dentro de mim toda a ânsia
de um filho ausente:
todas as minhas horas
são para sonhar-te.
Pertenço-te!
Sois vós o berço e o lar;
sois vós o trabalho e o pão;
sois vós a terra, a semente e o fruto;
sois vós o sonho e a realização;
sois vós o refúgio na renúncia;
sois vós o porto
onde se abrigam os abstratos
navios da minha infância.
Vós, eternamente vós
direção constante do meu destino.
_________________
* Uma casa alpendrada, primeira de São José do Campestre, deu orígem a atual Rua José Antônio.
**José Antônio foi o pioneiro. Sua propriedade, denominada Campestre, situada à margem do Rio Jacu, deu orígem ao município de São José do Campestre.
***O hotel de Fisa Amador, primeiro do povoado, recebia compradores de gado, comerciantes e também poetas cantadores que vinham para a feirinha local.

domingo, 19 de dezembro de 2010

O pensamento e o pensador (por Joel dos Anjos)

"Não se pode falar de educação sem amor." - Paulo Freire -
Algumas frases marcam. Muitos políticos se tornaram célebres pelas suas frases. Quem não se lembra do Juscelino Kubitschek e a sua famosa frase "O Brasil vai crescer cinqüenta anos em cinco"? Juscelino falou com a autoridade de quem sabia o que estava propondo ao país e a sua gente. Não foi uma frase solta ao acaso, desprovida de intencionalidade e compromisso.
Lembro-me que o último general-presidente João Baptista Figueiredo disse preferir "o cheiro dos cavalos ao cheiro do povo". Uma frase que revela desprezo pelas massas, própria de uma elite arrogante e anti-povo.
A ex-primeira-dama do Brasil, Rosane collor, disse se referindo à sua lua-de-mel: "vamos passar quinze dias no Egito e depois vamos ao Cairo".
Não tem jeito. Ingênuas, engraçadas, estúpidas, sofisticadas, pensadas as frases estão aí e se engana quem pensa que mesmo as mais tolas não nos dizem nada. Por trás de cada frase está a alma do pensador e, por meio delas, é possível estabelecer, quando pouco, a sutil diferença entre aparência e essência, opinião e saber.
Quando o assunto é educação a regra é entender que o maior bem que uma cidade pode ter é seu povo educado. O educador Anísio Teixeira costumava dizer que "educação é vida no sentido mais autêntico da palavra". Basta lembrar que Anísio Teixeira é considerado o maior idealizador das mudanças que marcaram a educação brasileira no século XX.
Para John Dewey "educação não é preparação para a vida, é a própria vida". O filósofo Comênio chamava as escolas de "oficinas da humanidade". Comênio foi o primeiro teórico a respeitar a inteligência e os sentimentos das crianças. Nomes como o de Comênio, John Dewey, Anísio Teixeira, Paulo Freire mudaram o jeito de pensar e fazer educação.
Mas alguma coisa falhou. Quando ouço dizer que "a educação é o câncer de Campestre" - uma frase crua, absurda, inimaginável, que caminha na contramão de tudo que penso sobre educação - eu me pergunto sobre a inspiração que levou alguém a pensar tal coisa. Terão as escolas deixado de ser "as oficinas da humanidade"? Não. As escolas continuam a aprimorar a vida social, a ajudar na formação moral, a aperfeiçoar a personalidade, a transmitir conhecimentos, a enriquecer o caráter, a libertar. Então o que aconteceu?
O mestre Paulo Freire tinha razão: "não se pode falar de educação sem amor". Luc de Clapiers dizia que "os grandes pensamentos vêm do coração". Só os grandes pensamentos. A inimaginável frase não poderia jamais ter nascido do coração, mas da indiferença. Não digo do ódio. Porque "o oposto do amor não é o ódio, mas a indiferença" já nos ensinava o poeta.
Não terá sido a indiferença responsável pelo atraso do início do ano letivo? E esta mesma indiferença não terá antecipado em doze dias o seu final? A irregularidade dos transportes escolares não terá sido motivada pela indiferença? E a merenda escolar? Racionada, de qualidade inferior, não terá chegado às escolas pelas mãos da indiferença?
Educação e desenvolvimento são palavras indissociáveis, curioso que ainda haja espaço para a indiferença. E aqui poderíamos acrescentar uma frase final: "Educação nunca foi despesa. Sempre foi investimento com retorno garantido". E com esta certeza nos lançarmos na direção da reflexão, do pensamento, da liberdade, das sugestões da esperança.

domingo, 7 de novembro de 2010

V Semana Cultural - sob o olhar da geografia - (por Joel dos Anjos)

A Escola Municipal Jardelina Freire do Nascimento estará promovendo no período de 15 a 20 de novembro a V Semana Cultural com o tema "Construir a cidadania: nosso maior desafio". A idéia é trazer para a discussão temas relevantes como desmatamento, poluição e desigualdade social. Na verdade é um chamamento para a ação. Como tem sido o nosso comportamento diante de fatos que comprometem a vida no planeta? Qual tem sido a nossa atitude diante da miséria e da exclusão social? Temos sido apenas espectadores ou temos buscado soluções? Qual tem sido o papel da escola?
A cidadania consiste desde o gesto de não jogar papel no chão, apagar as lâmpadas em ambientes vazios, separar o lixo para reciclagem, dizer obrigado, bom dia, por favor... até o enfrentamento de graves problemas como o abandono e a exclusão social.
As instituições de ensino devem divulgar e trabalhar a cidadania objetivando o bem estar e o desenvolvimento da sociedade.
É nesse contexto que a geografia se insere, por se tratar de uma disciplina voltada para a reflexão de ideologias políticas, econômicas e sociais e que se caracteriza por buscar desenvolver no aluno a capacidade de identificar e refletir sobre diferentes aspectos da realidade, considerando que esta realidade não é imutável nem estática, e que ele próprio não é um mero observador, mas um agente ativo capaz de transformá-la.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Doras e Carmosinas

Há momentos em que os anos vividos nos obrigam a olhar em volta e fazer uma revisão das nossas perdas e dos nossos danos. Se hoje estou sendo agraciada com a mais alta condecoração de nosso país, é porque sou resultado de muitas influências e convivências. Centenas de companheiros e personagens me formaram, me educaram e estão comigo sempre. Não me refiro só a minha família de sangue, mas principalmente à minha família de opção...
Mas existe o antes. A infância. E - por que não? - o período da minha formação primária. Acho que é aí que tudo começa. Ao trabalhar o mundo da professora Dora de Central do Brasil, lá na infância é que fui buscar, na minha memória, as primeiras professoras que me alfabetizaram. Credenciadas, respeitadas, prestigiadas professoras primárias da minha infância. Professoras de escolas públicas que eu freqüentei, no subúrbio do Rio.
Eu me lembro especialmente de Dona Carmosina Campos de Meneses, que me alfabetizou. E, mais do que isso, que me ensinou a ler, o que é um degrau acima da alfabetização. Naquele tempo, as professoras ainda se chamavam Carmosinas, Ondinas. Busquei na memória a figura de Dona Carmosina para me aproximar da professora Dora (para mim, personagem não é ficção). E vi como seria trágico se a minha tão prestigiada e amada Dona Carmosina viesse a se transformar, por carências existenciais e sociais, numa endurecida e miserável Dora. Foi essa visão de tantas perdas que me deu o amocional da cena final do filme quando Dora escreve "tenho saudade de tudo".
Saudade é uma palavra forte e uma forma profunda de chamamento, de invocação. Entre Carmosina e Dora lá se vão sessenta anos. Penso que minha vocação de atriz foi sensibilizada a partir das leituras em voz alta, leituras muito exigidas, cuidadas, orgânicas, que nós alunos fazíamos usando os livros de português do antigo curso primário. As primeiras coisas que decorei na vida foram dois poemas que Dona Carmosina mandou (é essa a palavra: mandou) que decorássemos nas férias de dezembro: "Meus oito anos" de Cassimiro de Abreu e "Canção de exílio" de Gonçalves Dias. Na volta das férias naquele ano de 1937, eu, mesmo tímida, envergonhada e encantada declamei: "Oh! Que saudades que eu tenho da aurora da minha vida, da minha infância querida que os anos não trazem mais. Que amor, que sonhos, que flores, naquelas tardes fagueiras, à sombra das bananeiras, debaixo dos laranjais". Essas bananeiras e esses laranjais não eram licença poética. Os subúrbios de nossas cidades ainda não tinha sofrido essa degradação ambiental que infelizmente se faz presente com o passar dos anos. Vi muitos Brasis entre esses meus oito anos, os oito anos do poeta e essas duas mulheres: Carmosina e Dora. Vejo essa passagem de tempo, claro, com alegrias e ganhos, mas também com muitas perdas e dor. Sou atriz e confesso a minha deformação profissional: esse sentimento de perdas, essa nostalgia me ajudarm a resgatar o emocional dessa desprotegida e amarga Dora ao intuir que dentro dessas Doras desiludidas existe sempre uma Carmosina à espera de um ombro e de um socorro.
Senhor presidente, nesta nossa confraternização de artistas e autoridades como não lembrar o milagre que a educação e a cultura produzem em todo ser humano. É este, me parece, o espírito que nos une aqui, neste espaço, e por estarmos diante da mais alta autoridade do nosso país, que é Vossa Excelência, a herança cultural da reivindicação artística e social se apresenta... Mas, Vossa Excelência é um democrata e um professor, por isso peço a Vossa Excelência me dar o direito de não resistir, mesmo porque acredito que estamos numa concordância de vontades. Senhor presidente, precisamos urgentemente de muitas, muitas Carmosinas e, se possível, nenhuma Dora. Vossa Excelência tem poder para transformar as Doras em Carmosinas. O país lhe deu esse poder. Eu tenho um sonho que certamente é também um sonho de Vossa Excelência e de muitos, muitos, muitos brasileiros. Eu tenho um sonho (parodiando o notável reverendo americano) que um dia, realmente, todas as desesperadas Doras serão resgatadas desses ônibus perdidos que atravessam esse nosso sertão de miséria e que a elas será dado nem que seja uma parcela daquele reconhecimento e respeito social das professoras Carmosinas da minha infância. Doras com visão de futuro, com auto-estima, economicamente ajustadas. Professoras Doras inventivas, confiantes, confiantes no seu magistério, para que possam ser amadas como seres humanos e (por que não?) como personagens também. Muito amadas e lembradas por todos os Vinícius e todos os Josués de nosso país. Mesmo assim prefiro as Carmosinas... Que Dora compreenda e me perdoe. Vale a troca. Para o fortalecimento da nossa educação, da nossa cultura, vale a pena, senhor presidente, se a nossa alma, isto é, se a realização do sonho de todos nós, se essa realização não for pequena. Faço de Dora e Carmosina minhas companheiras neste meu agradecimento. Ignorá-las seria desprezar a minha infância e a realidade da minha, não digo velhice, mas da minha madureza.
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Discurso feito pela atriz Fernanda montenegro ao ser homenageada por sua indicação ao Oscar de melhor atriz estrangeira pelo desempenho no filme "Central do Brasil".

terça-feira, 12 de outubro de 2010

O dia da criança (por Joel dos Anjos)

O dia da criança é comemorado em diferentes países do mundo. Cada país escolhe a data de acordo com a história e o significado da comemoração.
Na Índia, o dia da criança é comemorado no dia 15 de novembro; em Portugal e Moçambique, 1º de junho; no Japão e na China, 5 de maio.
Muitos países, no entanto, comemoram no dia 20 de novembro, dia em que o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) oficializou a Declaração dos Direitos da Criança (20 de novembro de 1959). Nesse Documento se estabeleceu uma série de direitos válidos a todas as crianças do mundo independente de raça, credo, cor ou sexo, como o direito à afeição, amor e compreensão, alimentação, saúde, educação gratuita e proteção contra todos os tipos de exploração.
No Brasil, uma lei federal proposta pelo deputado Galdino do Vale Filho, criou em 1924, o Dia da Criança, oficializado pelo presidente Arthur Bernardes através do decreto 4867, de 5 de novembro de 1924.
O dia 12 de outubro foi escolhido por ser também a data em que o navegador Cristóvão Colombo descobriu a América - chamada durante vários séculos de continente-criança, por ter surgido para os europeus apenas no século XV.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Índio do asfalto (por Joel dos Anjos)

Em período eleitoral é comum (re) aparecerem os “filhos da terra”: os que a abandonaram, os que a esqueceram, os que nada fizeram para merecerem ser chamados de filhos da terra. E aparecem também os que querem ser adotados a todo custo, aqueles que sem laços nenhum, os criam, obviamente para se desfazerem depois sem nenhum constrangimento. De todo modo, ser filho da terra é uma condição especial, um diferencial que parece pesar na hora da escolha.

Eu, por minha vez, pergunto: ah, Campestre, onde estão os teus filhos? Por que razão te abandonaram? Não me refiro apenas àqueles que zarparam e aqui aparecem de quatro em quatro anos tentando arrebanhar as massas, mas principalmente aqueles que permaneceram e são como ausentes, que nos vendem ilusões e nos tornam desiludidos.

O tempo nos ensina que não basta ser filho da terra, mas que é preciso amar a terra; que é preciso, sobretudo, ter a mesma fome e a mesma sede da terra. Aliás, de que tem tido fome e sede os filhos de Campestre? Não me refiro aos filhos distraídos, abandonados e desiludidos, aos que tiveram que deixar o seu chão para tentar a sorte em chão desconhecido, aos que tiveram que abandonar os estudos a um passo do ensino médio por falta de transporte escolar, aos trabalhadores e trabalhadoras com seus salários atrasados, parcelados, vivendo injustamente de pires na mão a mendigar os seus direitos. Não, não me refiro a nenhum desses filhos de Campestre. A fome desses, eu conheço. Da sede desses, eu também padeço, porque compartilhamos o mesmo sonho de prosperidade e justiça. Refiro-me aqueles que com as nossas necessidades constroem não apenas os seus discursos, mas os seus sonhos, suas casas, e enchem suas casas de conforto, e refinam seus gostos, e freqüentam lugares nunca antes imaginados, e comem, e bebem, e se divertem, e se declaram defensores da terra enquanto a terra morre a míngua abandonada e esquecida.

Talvez porque eu seja um índio do asfalto ainda cultive valores como o amor a terra, e seja capaz até de ouvir o seu lamento e sofrer o seu abandono como se fosse a mim mesmo abandonado. Talvez. Mas talvez eu esteja certo: quem sabe o amor a terra não passe mesmo pelo desejo de governá-la, mas se alimente do sonho de bem servi-la.

domingo, 19 de setembro de 2010

De estouro, não! (por Joel dos Anjos)


De quem será a culpa? Das escolas? Certamente não. O fato de nenhuma escola da rede municipal ser registrada no Ministério da Educação revela uma desatenção de todos os prefeitos que passaram pelo município de São José do Campestre. Por isso ouvi com tristeza o comentário do vereador Dedé Mendonça no seu programa semanal na rádio matutão FM a respeito desse problema que não é exclusivo da Escola Jardelina Freire, mas de todas as escolas da rede municipal de ensino.

Tachar a Escola Jardelina de “escola de estouro” foi no mínimo deselegante. A Escola Jardelina é reconhecida pelo MEC, tem CNPJ, é beneficiada com os programas e convênios do governo federal. Não atua, portanto, na clandestinidade.

Penso que nenhuma crítica deve ser direcionada às escolas particularmente, mas aos gestores que se furtaram ao cumprimento de mais esse dever para com a educação campestrense.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Pátria (Daltro Santos)

A palavra pátria vem do latim – patria – e significa o país dos nossos pais, isto é, dos nossos antepassados. Mas essa é apenas uma definição enciclopédica. Veja o significado de pátria na visão de Daltro Santos:


A pátria é tudo. Quereis que vos diga tudo e eu nada vos digo, porque ela palpita e freme tão forte, tão exclusiva, tão deslumbrante e multiforme nos mais íntimos recessos do meu ser, que o espírito a sente e não pode dizê-la, que o lábio a nomeia e não sabe louvá-la, que o coração a estremece e não consegue explicar a comoção que ela derrama nele!


A pátria é tudo, porque é a vida e somos nós, é a terra e o homem, o envoltório e a essência. É o fulgor sidéreo do firmamento e o balanço constante dos mares, o dardejo do Sol e a pompa dos campos, o cachoeirar dos largos rios e o deslize suave dos regatos, as frondes altas da floresta e as flores da várzea refolente!


A pátria é tudo porque é o homem: - são os antepassados, os que desvelaram a terra e lindaram as fronteiras; é o brandir da espada na defesa e a ovação das vitórias; são os ímpetos e os reptos do gênio, na radiação da palavra, na feitura dos poemas, nos esplendores da arte; são os fastígios das aclamações, renúncias e martírios, delírios e apoteoses; os benefícios do labor e a expansão da cultura, os ardores da liberdade e as afirmações do direito.


A pátria é tudo, porque é o lar, porque é o tempo, porque é a escola, porque é o quartel e a fábrica, a biblioteca e o laboratório, o campo e o gabinete, a nau e a locomotiva, a fazenda e a mina.


A pátria é tudo, e é quase nada às vezes: uma flor, um mistério, um sorriso, uma fonte, um travo de saudade, uma trova da roça, um perfume da selva, um trino de ave, um fugitivo aspecto, um grito de campeiro, um adeus, um suspiro, um ósculo, uma prece...

sábado, 7 de agosto de 2010

Registre-se, publique-se e cumpra-se (por Joel dos Anjos)

Quero me declarar um tolo. Mas se existe algum consolo para a tolice, eu não sou o único. Arrasto comigo os meus colegas de cruz. Eles também tiveram os seus salários parcelados como se São José do Campestre tivesse uma Constituição própria. Eles também ficaram calados e quando disseram “não”, ingenuamente disseram para ouvidos treinados para ouvir apenas o “sim” dos poderosos. Somos todos tolos. Mesmo eu que não fiz propaganda a favor de um acordo fadado ao fracasso, que me antecipei e anunciei todas as perdas desse acordo, que alertei para o fato de que fazer acordo com esse governo é o mesmo que perder... sou um tolo. Se não o sou por acreditar e compartilhar, o sou por determinação. Determinaram que eu fosse um tolo com todos os danos que o título confere, entre eles, o de trabalhar sem a garantia da minha paga no final do mês.

E agora? O acordo firmado em juízo para pôr em dia o salário dos servidores municipais não foi cumprido. Eu sabia que não seria cumprido. Mas isso não importa. O que importa é que o acordo não foi cumprido. Os servidores municipais que desde o mês de junho vem recebendo seus vencimentos parcelados deveriam receber integralmente agora no mês de agosto, entre os dias dois e seis. É o que reza o acordo. Mas o acordo não foi cumprido. As regras do acordo foram mudadas. Quem determinou que elas fossem mudadas? Enquanto os servidores arcavam sozinhos com o prejuízo, enquanto o acordo foi vantajoso apenas para o gestor ele foi rigorosamente cumprido. Agora que os servidores iriam de fato se beneficiar com o acordo, as regras foram mudadas. E o acordo não foi cumprido. Eu sabia que seria assim. Mas isso não importa.

O que importa é que o acordo não foi cumprido. E que somos todos tolos. E como tolos aceitamos de bom grado um acordo que não fizemos. E até sonhamos. Por muito pouco não saímos às ruas para comemorar: “por me deixar respirar, por me deixar existir, Deus lhe pague”. Afinal de contas “os miseráveis não tem outro remédio a não ser a esperança” já nos ensinava Shakespeare. E fomos levados e nos deixamos levar por uma esperança tola e vã.

É certo que continuaremos a acreditar no improvável. Ora, os tolos são assim. Basta um aceno da mais infundada esperança para que voltemos a sonhar de novo. Não fui a favor do acordo. Não sonhei os sonhos que sonharam com esse acordo por que não acredito num sonho construído com o sacrifício de um direito. Mas isso não importa.

sábado, 17 de julho de 2010

Canção futura (por Joel dos Anjos)

Amanhã eu quero falar de antigamente
Sem tristeza no olhar.
Sonhar, mesmo que em mim só exista
Os sinais do fracasso.
Eu quero plantar,
Mesmo que não haja tempo pra colher.
Eu quero querer
Mesmo que nada mais eu possa alcançar.


Amanhã eu quero lembrar o hoje
Sem vontade de chorar.
Tentar, mesmo que eu carregue sobre os ombros
O peso atrofiante dos meus erros.
Eu quero me iludir
Mesmo que não haja tempo pra recomeçar.
Eu quero sermear
Mesmo que eu não veja os caminhos que florir.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Julho na História


Dia 1º 1994 – Brasília
Entra em vigor o real, nova moeda brasileira.

Dia 20, 1798 - Egito
Liderado por Napoleão Bonaparte, o exército francês toma a cidade egípcia de Alexandria.

Dia 06, 1885 – Paris
O bacteriologista Louis Pasteur testa com sucesso sua vacina anti-rábica. O garoto Joseph Meister, que fora mordido por um cão raivoso recebeu a vacina e não contraiu a doença.

Dia 20, 1897- Rio de Janeiro
É oficialmente inaugurada a Academia Brasileira de Letras. Na primeira sessão, 16 acadêmicos assistiram a posse do escritor Machado de Assis como primeiro presidente da instituição.

Dia 07, 1912 – Rio de Janeiro
Primeira partida entre Flamengo e Fluminense. Um público de 800 pessoas viram o Flamengo perder por 3x2. Veja o histórico da partida:
Flamengo: Baena, Píndaro, Nery, Cintra, Gilberto, Galo, Orlando, Arnaldo, Borgerth, Gustavo e Amarante.
Fluminense: Laport, Maia, Belo, Leal, Mutzembecker, Pernambuco, Osvaldo, Bartholomeu, Behrmann, Edward Calvert e James Calvert.
Gols: E. Calvert (1 min), J. Calvert (57 min) e Bartholomeu (72 min) pelo Fluminense – Arnaldo (4 min) e Píndaro (72 min) pelo Flamengo.

Dia 07, 1957 – Rio de Janeiro
Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, estreou na seleção brasileira de futebol, aos 16 anos de idade. Ele entrou no segundo tempo do jogo entre Brasil e Argentina e fez o único gol da seleção brasileira que perdeu por 2x1.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Para refletir

"Nenhum homem que tenha vivido conhece mais sobre a vida e a morte que eu e você. Toda religião simplesmente desenvolveu-se com base no medo, ganância, imaginação e poesia". (EDGAR ALLAN POE)

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Soneto (por Joel dos Anjos)

Para Luciana
É dom de Deus amar, sonhar, querer.
Ter a alma presa nem que seja a uma saudade.
É fascinante se entregar, se doar... pertencer
A alguém e não sonhar com a liberdade.

E a quem na vida falta esse sentido
Resta-lhe a angústia de um vazio somente
Que só o tempo de amor vivido
É tempo vivido plenamente...

E se alguma tristeza nos aflige a alma
E se a solidão nos perturba a calma
Pouco importa: não conhece o amor a vaidade.

Se por amor se sofre dor imensurável
Nos causa o mesmo amor dor inexplicável
Que mais parece a felicidade.

domingo, 13 de junho de 2010

Panem et circenses (por Joel dos Anjos)

Na Roma antiga, o medo de que a população se revoltasse contra o governo e exigisse melhores condições de vida, fez com que fosse criada a política do pão e circo.

Essa política adotada na Roma antiga é muito parecida com a política adotada hoje no município de São José do Campestre. A prefeitura, através da secretaria de educação promoverá na segunda quinzena de junho, o São João da educação. Estima-se que será gasto algo em torno de quinze mil reais para a realização do evento. Uma pequena fortuna para um município que não tem dinheiro para pagar aos trabalhadores nem para manter em dia o estoque de dipirona na farmácia do hospital.

Cabe então uma pergunta: por que não dividir essa pequena fortuna com as escolas do município? Mais uma vez a resposta, ou melhor, o argumento apresentado parece ter saído do roteiro de algum filme de humor: “não se pode deixar morrer a tradição”. Ora, a tradição que verdadeiramente interessa aos trabalhadores é receber seu salário em dia e integralmente. Essa tradição deixaram morrer e nenhuma voz se levantou em sua defesa.

O que é a tradição diante da fome? Se existem trabalhadores extravasando a necessidade do pão para agasalhar o estômago vazio, como é possível pensarmos em festa? Esta me parece a mais cruel de todas as contradições. Mas fica a certeza: estamos longe de aprendermos a nos colocar no lugar do outro, a sentir a dor do outro. A tão sonhada e necessária cidadania ensinada aos nossos alunos parece não ter sido apreendida por quem faz a educação.

Estamos dando uma aula de indiferença e egoísmo. Oxalá, tomara que os nossos alunos não aprendam a lição.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Fogo ou água fervente? (por Joel dos Anjos)

A proposta apresentada ao gestor para parcelar em três vezes os vencimentos de maio (já estamos em junho) e em duas vezes os vencimentos de junho do servidor municipal, têm seus adeptos. Por aqui tem adeptos pra tudo. Tem professor que concorda em reduzir seu salário. Tem professor que não quer reajuste de salário. Tem vereador que acha normal atraso no pagamento do salário.


Mas curioso mesmo é o argumento utilizado para defender essas estranhas idéias (para dizer o mínimo): “é melhor isso do que nada”. A impressão que se tem é que vivemos em pleno rigor do AI 5 onde predominava a força, não a justiça. Ou aceitamos o pior ou pior será.


Não é justo nos colocar assim contra a parede. Deve existir um caminho onde prevaleça o justo, o correto, o bom senso. Não acredito que não tenhamos escapatória. Não é possível que nossas únicas escolhas seja o fogo ou a água fervente.


O calendário jamais sonhado pelo servidor municipal foi apresentado hoje. Veja:


PREF. MUN. S.J.CAMPESTRE-RN /SETOR PESSOAL
CALENDÁRIO DE PAGAMENTO DOS SERVIDORES MUNICIPAIS
CONFORME A AÇÃO CIVIL (sic) PÚBLICA DO MINISTÉRIO PÚBLICO
AUTOS Nº 153.09.000302-2


MÊS DE MAIO DE 2010
SERÁ DIVIDIDO EM TRÊS PARCELAS:


. 1ª PARCELA – DIA 10 DE JUNHO – 50% DO SALÁRIO
. 2ª PARCELA – DIA 20 DE JUNHO – 25% DO SALÁRIO
. 3ª PARCELA – DIA 30 DE JUNHO – 25% DO SALÁRIO


MÊS DE JUNHO DE 2010
SERÁ DIVIDIDO EM DUAS PARCELAS:


. 1ª PARCELA – DIA 10 DE JULHO – 50% DO SALÁRIO
. 2ª PARCELA – DIA 20 DE JULHO – 50% DO SALÁRIO


MÊS DE JULHO DE 2010


SERÁ PAGO INTEGRALMENTE ENTRE O DIA 02 A 06 DE AGOSTO DE 2010.


MÊS DE ABRIL DE 2010
SERÁ DIVIDIDO EM TRÊS PARCELAS IGUAIS:


. 1ª PARCELA – DIA 30 DE SETEMBRO DE 2010
. 2ª PARCELA – DIA 30 DE OUTUBRO DE 2010
. 3ª PARCELA – DIA 30 DE NOVEMBRO DE 2010


20 DIAS DE AGOSTO DE 2009


SERÁ DIVIDIDO EM TRÊS PARCELAS IGUAIS:


. 1ª PARCELA – DIA 30 DE SETEMBRO DE 2010
. 2ª PARCELA – DIA 30 DE OUTUBRO DE 2010
. 3ª PARCELA – DIA 30 DE NOVEMBRO DE 2010




sábado, 22 de maio de 2010

Hino Nacional Brasileiro (Versão Guarani)



Ouviram do Ipiranga as margens plácidas
Onhe Hendu ypiranga gui hembe Kangy’i
Ouviram-se do Ipiranga as margens calmas
De um povo heróico o brado retumbante,
Xondáro sapukai omboryryi
O grito dos guerreiros estremeceu
E o sol da Liberdade, em raios fúlgidos,
Kuaray aça oexape vy nhanderesaka
O raio do sol brilhou ofuscante
Brilhou no céu da Pátria nesse instante.
Hendy pe arai re agu’i
Brilhou no céu nesse instante
Se o penhor dessa igualdade
Openhara joo raminguá
Se o penhor da igualdade
Conseguimos conquistar com braço forte,
Jyvá mbaraete py rogueru
Conseguimos trazer com braço forte
Em teu seio, ó Liberdade,
Ne kâmy teko vy’a
Em teu seio, a paz
Desafia o nosso peito a própria morte!
Nhande poxi’a oenoi nhane mano
Nosso peito chama a própria morte
Ó Pátria amada,
Yvy hayupy
Terra amada
Idolatrada,
Nhemboete
Respeitada,
Salve! Salve!
Oúma ! Oúma!
Saúdo! Saúdo!
Brasil, um sonho intenso, um raio vívido
Pindorama nhe’em baraete overá hendy
Brasil, é a voz forte, raio reluzente
De amor e de esperança à terra desce,
Mborayu ha’e nhearô gui ywy oguejy
De amor e de esperança à terra desce
Se em teu formoso céu, risonho e límpido,
Yvá porã py tory potim açy
No céu formoso, riso e límpido,

A imagem do Cruzeiro resplandece.
Kuruxú ra’ angaa hexakã
A imagem da cruz das estrelas resplandece
Gigante pela própria natureza,
Tuixa ojegui hae oíny há’epy
Grande pela própria natureza,
És belo, és forte, impávido colosso,
Iporã, hatã há’agaa ndaovaiguái
É bonito, é forte, a imagem é imcomparável
E o teu futuro espelha essa grandeza
Tuixa ojekuaa araka’ e verã
Aparece o grande futuro
Terra adorada,
Yvy porã
Terra bonita,
Entre outras mil,
Heta va’ egui
Entre outras muitas,
És tu, Brasil,
Ndee há’e
Você é,a
Ó Pátria amada!
Yvy hayupy
Terra amada!

Dos filhos deste solo és mãe gentil,
Ko Yuy Ra’y kuery Gui xy Marangatu
Dos filhos desta terra é mãe gentil
Pátria amada,
Yvy hayupy
Terra amada,
Brasil!
Pindorama!
Brasil!
Deitado eternamente em berço esplêndido,
Onhenó Kuri peve Guarã Mondeapy
Deitado eternamente em colo da mãe,
Ao som do mar e à luz do céu profundo,
Pará Guaçu Nhedu Ha’e yuá rexakã
O som do mar e a luz do céu,
Fulguras, ó Brasil, florão da América,
Pindorama ojekuaa ve va’e “América” py
O Brasil que aparece mais na América,
Iluminado ao sol do Novo Mundo!
Oexapé kuaray yuy pyau gui
Ilumina o sol do Novo Mundo!
Do que a terra mais garrida
Pe yvy iporã ve
Terra mais bonita

Teus risonhos, lindos campos têm mais flores;
Hory, nhuu dy porã heta vé yvoty
Seus risonhos, lindos campos e mais flores
Nossos bosques têm mais vida,
Nhande ka’aguypy oi ve tekove
Em nossa floresta tem mais vida,
Nossa vida no teu seio mais amores.
Orerekove nekã my roayuve
Nossa vida em teu seio mais amamos.
Ó Pátria amada,
Yvy hayupy
Terra amada,
Idolatrada,
Nhemboete
Respeitada,
Salve! Salve!
Oúma! Oúma!
Saúdo! Saúdo!
Brasil, de amor eterno seja símbolo
Pindorama Mborayú guí que tojexauka
De amor do Brasil, que apareça
O lábaro que ostentas estrelado,
Hajukue jaxytata oexauká va’e
O pano que mostra estrelas,

E diga o verde-louro desta flâmula
Eré arapaxái hovy ko haju kue’ire
Diga o verde-louro deste paninho
Paz no futuro e glória no passado.
Vy’arã há’e aguyjevete yma guarere
Paz no futuro e glória no passado.
Mas, se ergues da justiça a clava forte,
Onhemopy’a ha’egui onhendu ratã
Mas, ergueu-se e clamou forte,
Verás que um filho teu não foge à luta,
Rexa’rã nde ra’y nonhai nherairõ gui
Verás que teu filho não fugirá da luta,
Nem teme, quem te adora, a própria morte.
Ekyjeme de rayua nemanoa
Não tenha medo, quem te adora, própria morte.
Terra adorada
Yvy porã
Terra bonita
Entre outras mil,
Mbovy he’y va’egui
Entre outras muitas,
És tu, Brasil,
Ndee há’e
Você é, a

Ó Pátria amada!
Yvy hayupy
Terra amada!
Dos filhos deste solo és mãe gentil,
Yuy ra’ygui ha’e xy marangatu
Dos filhos desta terra é mãe gentil
Pátria amada,
Yvy hayupy
Terra amada,
Brasil!
Pindorama!
Brasil!

sexta-feira, 21 de maio de 2010

A justiça no outro lado da fronteira

O Jornal Diário de Natal, na edição desta sexta-feira, 21 de maio de 2010 traz uma reportagem que nos mostra que nem só de impunidades vive o Brasil, principalmente em se tratando do erário público. Veja, na íntegra, o que diz a reportagem:

“O Tribunal de Contas do Estado (TCE) condenou dois ex-prefeitos, ontem, durante a sessão da 1ª Câmara. O primeiro caso foi uma prestação de contas referente ao 6º bimestre de 2003 da prefeitura de Lagoa D’Anta, na gestão de Germano de Azevedo Targino. O voto foi pela irregularidade, devendo o ex-gestor restituir R$ 229.192,25 diante da omissão ao dever constitucional de prestar contas, alem de multa na gradação de 10% sobre o débito atualizado.

As principais peças do processo serão enviadas ao Ministério Público Estadual para que sejam adotadas as devidas providências.

O segundo processo, referente a balancete do Fundef do exercício de 2002 da prefeitura de Santo Antônio, sob a responsabilidade de Luiz Carlos Vidal Barbosa. O voto foi pela restituição de R$ 110.655,190 pela ausência de prestação de contas e apresentação do plano de aplicação do valor de R$ 242.079,73 não utilizados para remuneração do magistério, no exercício de 2002, no pagamento de professores”.
(Ex-prefeitos condenados a devolver R$ 240 mil - Diário de Natal - 21 de maio de 2010)

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Recado aterrador sobre a tua liberdade

“... Digamos que tudo aquilo que sabes não seja apenas errado, mas uma mentira cuidadosamente engendrada. Digamos que tua mente esteja entupida de falsidades: sobre ti mesmo, sobre a história, sobre o mundo a tua volta, plantadas nela por forças poderosas visando a conquistar, pacificamente, tua complacência. A liberdade, nessas circunstâncias, não passa de uma ilusão, pois és, na verdade, apenas um peão num grande enredo e o teu papel o de um crédulo indiferente. Isso, se tiveres sorte. Se, em qualquer tempo, convier aos interesses de terceiros o teu papel vai mudar: tua vida será destruída, serás levado à fome e à miséria. Pode ser, até, que tenhas de morrer. Quanto a isso, nada poderá ser feito. Ah! Se acontecer de conseguires descobrir um fiapo da verdade até poderás tentar alertar as pessoas: demolir, pela exposição, as bases dos que tramam nos bastidores. Mas, mesmo nesse caso, também não terás muito mais a fazer. Eles são poderosos demais, invulneráveis demais, invisíveis demais, esperto demais. Da mesma forma que aconteceu com outros, antes de ti, também vais perder!”
Charles P. Freund, Editorialista do The Washington Post.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

O professor está sempre errado

Quando...
É jovem, não tem experiência.
É velho, está superado.
Não tem automóvel, chora de "barriga cheia."
Fala em voz alta, vive gritando.
Fala em tom normal, ninguém escuta.
Não falta ao colégio, é um "Caxias."
Precisa faltar, é um "turista."
Conversa com outros professores,
Está "malhando" os alunos.
Não conversa, é um desligado.
Dá muita matéria, não tem dó dos alunos.
Dá pouca matéria, Não prepara os alunos.
Brinca com a turma, é metido a engraçado.
Não brinca com a turma, é um chato.
Chama à atenção, é um grosso.
Não chama à atenção, não sabe se impor.
A prova é longa, não dá tempo.
A prova é curta, tira as chances do aluno.
Escreve muito, não explica.
Explica muito, o caderno não tem nada.
Fala corretamente, ninguém entende.
Fala a "língua" do aluno, não tem vocabulário.
Exige, é rude.
Elogia, é debochado.
O aluno é reprovado, é perseguição.
O aluno é aprovado, "deu mole."
É, o professor está sempre errado. Mas se
Você conseguiu ler até aqui, agradeça a ele!

Jornal do Curso de Pedagogia / PUC-MG

segunda-feira, 26 de abril de 2010

O muro que ninguém vê (por Joel dos Anjos)

E a cidade (...) com os punhos fechados da vida real,
Lhe nega oportunidades,
Mostra a face dura do mal...


Todo homem tem direito à instrução. (art. 26 da Declaração Universal dos Direitos do Homem)


A educação, direito de todos e dever do município. (art.124º da Lei Orgânica do Município de São José do Campestre-RN)


“A maioria deles vem de Trenchtown.” Trenchtown é uma comunidade pobre que fica nos arredores de Kingston, capital da Jamaica e é também o título de uma música de Bob Marley. Nesse trecho, Bob Marley denuncia que no mundo existe um grande número de pessoas que vivem esquecidas, largadas à margem. “A maioria deles vem de Trenchtown.”


Trenchtown também poderia ser o nome de todas as comunidades rurais de são José do Campestre. Nessas comunidades está sendo erguido um muro. Não se trata de um muro de concreto. É um muro invisível construído de silêncio e indiferença, mas que separa, distingue, divide, distancia.


Já dissemos aqui que o ano letivo em São José do Campestre começou com um longo e injustificável atraso. Falamos também da nossa preocupação em repor essas aulas. No nosso entendimento todos os alunos foram prejudicados e todos, sem exceção, têm direito à reposição. Isto é tão óbvio quanto somar dois mais dois. Está na cara como se diz.


Aqui se começa a erguer o muro. E tão silenciosamente ele está sendo erguido que ninguém se deu conta da sua construção.


Na quarta feira, feriado nacional, a Secretaria de Educação havia determinado que todas as escolas deveriam funcionar normalmente. Não poderia ter escolhido pior data para a reposição das aulas. Essa determinação revelou um estranho desconhecimento da Historia do país. Ou um tanto pior: revelou desprezo. A única escola a não cumprir com a determinação foi a Escola Jardelina Freire do Nascimento.


Diante desse fato, foi determinado que no sábado, 24 de abril, a Escola Jardelina abriria os seus portões. Mas abriria os seus portões apenas para os alunos da cidade: não foi colocado nem um transporte para os alunos da zona rural. Estava erguido o muro. A educação estava deixando de ser um direito para ser um privilégio.


O que vamos dizer aos nossos alunos da zona rural? Como vamos explicar a nossa própria incoerência? Eu não sei. De distinção, eu confesso que não sei. Mas sei que devemos todos um pedido de desculpas aos nossos alunos da zona rural. Devemos, quem sabe, a promessa – e que ela seja inquebrantável – de não errarmos de novo.


O direito à educação não está associado à cor dos olhos ou da pele, tampouco ao lugar de orígem. A educação, a exemplo do que disse Vernor Muñoz Villalobos, relator da ONU, “não é um serviço a ser prestado, mas um direito básico e fundamental que deve ser respeitado.”

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Patriotismo zero (por Joel dos Anjos)

O ano letivo em São José do Campestre começou com 15 dias de atraso. Falta de merenda e problemas relacionados com o transporte escolar foram apenas algumas das justificativas para o injustificável atraso. O fato é que em nenhuma das justificativas apresentadas pela Secretaria de Educação se pode apontar o professor como culpado. Foi um problema de gestão, alheio à vontade e à competência do professor.

Mas não se trata de elegermos culpados ou inocentes. Nossa preocupação é mais profunda, mais significativa por assim dizer. Como os nossos alunos serão compensados? A Secretaria de Educação determinou que nesta quarta feira, 21 de abril, feriado nacional, dia dedicado ao herói da inconfidência mineira, as escolas funcionassem normalmente, sob pena de cortar o ponto dos professores faltosos. Não sei se ache incrível ou lamentável que a Secretaria de Educação não conheça a História do país. Que Tiradentes seja esquecido justamente pela instituição que deveria lembrá-lo. Esta não é a lição que devemos oferecer aos nossos alunos: sepultar na frieza do esquecimento a nossa própria História escrita com o sonho e com a vida de homens como Joaquim José da Silva Xavier.

Que as aulas precisam e devem ser repostas, os professores sabem; nenhum professor se furtará a esse chamamento. Mas sem imposição. Sem ferir a legalidade nem o patriotismo.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

O azul dos teus olhos (por Joel dos Anjos)

Quero viver no azul
No profundo azul dos teus olhos.
Quero tocar o azul
O fascinante azul do céu,
Que se confunde com o azul dos teus olhos.
Quero mergulhar no azul
No inebriante azul do mar.
Inda mais fascinante que o azul do céu,
Inda mais profundo que o azul dos teus olhos.
Sobretudo quero viver no azul
No profundo azul dos teus olhos.
Inda mais belo que o azul do céu,
Inda mais belo que o azul do mar!

sexta-feira, 2 de abril de 2010

A nossa merenda de cada dia (por Joel dos Anjos)

Um trabalho realizado em 2003 pela UNICAMP (Universidade Estadual de Campinas) revela que para 50% dos alunos da região Nordeste do Brasil a merenda escolar é considerada a principal refeição do dia. O trabalho foi publicado no site do Ministério da Saúde em 2008. Seria de fundamental importância que os nossos desavisados governantes tivessem a noção exata da importância da merenda escolar na vida de centenas de alunos matriculados nas escolas da rede municipal de ensino.

São José do Campestre é uma porção do Nordeste brasileiro. Aqui vivenciamos todos os dias essa verdade. O trabalho realizado pela UNICAMP vem apenas fundamentar a nossa preocupação. O que não sabemos é como tornar também dos governantes essa preocupação que é só nossa.

No Brasil, particularmente no Nordeste em face da pobreza, a alimentação escolar ganhou uma dimensão social maior. A baixa qualidade da merenda escolar tem influência negativa na aprendizagem porque diminui a capacidade de concentração nas atividades escolares além de contribuir substancialmente para a evasão, ou seja, tem influência direta no fracasso escolar de parte significativa dos nossos alunos.

Um dos mais antigos programas de suplementação alimentar em execução no Brasil, o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) foi desenvolvido a partir de 1954 com o estabelecimento da Campanha da Merenda Escolar (CME). O objetivo do programa é suprir 15% das necessidades nutricionais diárias e contribuir para a redução da evasão escolar. Em 1988 a alimentação escolar passou a ser direito constitucional.

No entanto esse direito está sendo banalizado. A má qualidade dos alimentos distribuídos às escolas da rede municipal de São José do Campestre é um exemplo de negação desse direito e de desatenção e desrespeito àqueles que escreverão o nosso futuro.

A alimentação escolar de qualidade é um direito constitucional dos alunos e um ato pedagógico.

terça-feira, 16 de março de 2010

A desconhecida ( por Joel dos Anjos )

Delírio... fantasia... miragem... imaginação
Fugidio sonho que embriaga e entontece.
Vulto que apenas se reconhece:
Não se prende, não se segue, não se sabe a direção.

Voz, sorriso: magia... sedução
Qualquer coisa que deslumbra e apetece
Edêneo gozo em que a alma adormece:
Verso... poesia... canção.

Cabelo ao vento... indiferente passa
E o instante se enche de graça
Ternura... fascínio... perfeição.

Passa... e ao perder-se na distância
Fica o desejo, o sonho, a ânsia
Silêncio... vazio... solidão.

terça-feira, 9 de março de 2010

Dezembro ( por Joel dos Anjos )

Já percorri todo o círculo.
Como um fantasma inquieto
Vago na trajetória habitual.
Não invejo a paz convencional
Nas pessoas hipócritas,
Nem aspiro a uma felicidade fugaz -
Que dura um só momento -
Aliás, de nenhuma ambição
Se devia armar meu pensamento
Pois nada há que possa ser mudado:
Assim como o dia se achará
Fatalmente nos braços da noite
Corro de encontro ao determinado.
E nada há que me possa ser acrescentado.
Apenas vivo, consumo o que me pertence
E sonho o que necessito.

Em breve me acharei no começo.
No limiar dos sonhos,
No alvorecer das expectativas.
Onde os homens depositam a esperança
E o destino rir de escárnio.

Às pedras que me foram tiradas
Outras predestinadas tomarão lugar.

E assim se sucederá
Até que venha a mim o tempo de morrer.

sábado, 6 de março de 2010

Ele tinha um imenso amor por Campestre ( por Joel dos Anjos)

João de Hercílio. Eu não saberia esquecê-lo. Não serão apenas as obras realizadas quando prefeito por duas vezes que o tornarão inesquecível, mas também e principalmente o seu grande amor por Campestre. As obras servirão para lembrar o político; o amor, para imortalizar o homem. E era exatamente esse amor incondicional pela sua terra e pela sua gente que fazia dele, um líder. O maior líder que Campestre conheceu, a quem não faltou desafios nem a coragem necessária para enfrentá-los.

Fui testemunha das suas muitas lutas. Mais do que isso: fui um aliado. E aprendi a admirar a sua coragem, a sua determinação e a sua perseverança. Foram muitos os recomeços, mas sempre o via, depois de cada luta, ainda mais fortalecido, juntando os sonhos deixados pelo caminho para torná-los realidade um dia. E não era nenhum herói, contudo; era apenas humano, com seus defeitos e com suas virtudes.

Ele sabia falar de sonho. Ele falava de esperança como quem compõe uma canção ou um poema: acreditando que ela encontraria abrigo no mais sólido coração. Ele nos deixou um legado de luta. Ele nos ensinou a acreditar no nosso ideal por mais distante e inatingível que ele possa parecer. Sabia como ninguém, enxergar o valor de cada um. Estava sempre disposto a elogiar a virtude e a reconhecer o mérito. Desprezava o oportunismo, tivesse o oportunista o nome que tivesse, a força ou o poder.

João de Hercílio partiu e nos deixou um vazio emoldurado por atitudes que despertaram admiração. Resta-nos agora debruçarmos sobre a saudade traduzida em dor nesses primeiros dias de ausência e não esquecer jamais o seu exemplo.

É hora de perscrutar as lembranças para vencer, quem sabe, essa angústia, porque afinal elas saberão acalmar em nós essa silenciosa dor de não tê-lo.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Medo e mais nada ( por Joel dos Anjos )

“Em comparação com outras profissões que exigem curso superior, a docência ainda ostenta as piores médias salariais.” Isto é o que nos revela o painel de especialistas organizado pela Fundação Victor Civita e a Fundação Carlos Chagas. O estudo foi realizado em novembro do ano passado e reuniu 17 especialistas de diversas áreas da Educação.

Segundo os especialistas o rendimento mensal médio de um dentista é de 3.322 reais; de um advogado, 2.389 reais; de um jornalista, 2.858 reais; de um farmacêutico, 2.212 reais; de um arquiteto, 2.018 reais; de um enfermeiro, 1.751 reais; de um biólogo, 1.719 reais e de um professor 927 reais.

Esse seria, segundo os especialistas, um dos motivos que afastam os melhores alunos do ensino médio da carreira docente. O documento aponta oito caminhos para atrair bons candidatos para atuar em sala de aula. Um deles é propor bons planos de carreira. “União, Estados e Municípios precisam criar caminhos para o docente evoluir sem ter de sair de sala de aula e virar coordenador, diretor ou formador como ocorre hoje.” – Concluem os especialistas.

Na verdade o estudo é um resumo de como tem sobrevivido a educação em todo o Brasil. Mas se você acrescentar a todos os dissabores mostrados pelo estudo realizado pela Fundação Victor Civita perda salarial de 20 dias do mês de agosto de 2009, atraso no pagamento dos vencimentos e atraso no pagamento do terço de férias você terá feito um resumo do caos que se instalou no sistema educacional do município de São José do Campestre – RN.

A administração do futuro, como é chamada a atual administração, parece empenhada em garantir à educação um futuro sem perspectiva, de enganos, incertezas, perdas, medo e mais nada.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Pense nisso:

"O sistema não teme o pobre que tem fome, porque, como regra, basta enganá-lo com cestas básicas e outras cantilenas da solidariedade. O sistema teme o pobre que sabe pensar, porque vai atrás de seus direitos." ( PEDRO DEMO )

Estamos atentos ( por Joel dos Anjos )

Suas palavras
São como folhas ao vento...

Estamos atentos!

Suas promessas
Divagam no espaço,
Presas no laço do esquecimento...

Estamos atentos!

Estamos atentos
E atentos seremos
Agora e sempre!

Estamos atentos
Ao seu discurso,
À sua incoerência,
À sua contradição,
À sua indiferença...

Estamos atentos!

Estamos atentos
E atentos seremos
Agora e sempre!

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Síntese ( por Joel dos Anjos )

A felicidade é uma estrela
ela brilha
sobre as nossas cabeças.
Nossos olhos podem vê-la
mas nossas mãos
não podem tocá-la.

domingo, 31 de janeiro de 2010

O tempo e o vento ( por Joel dos Anjos, setembro de 2002 )

Esqueço, renuncio
Mas há um sonho que não morre.
Que resiste aos ventos
Como se tivesse raízes.

Me entusiasmo, desfaleço
Mas há um sonho que não morre.
Que se sustenta no tempo
Como se fosse eterno.

Sonho incansável, imperturbável sonho!
Não sobreviverás a mim
Que sendo frágil - sou tua raiz!
Que sendo efêmero - sou teu tempo!

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Uma questão de momento ( por Joel dos Anjos )

Se alguém me disser que não há beleza nas flores, eu concordarei; mas se algum tempo depois esse mesmo alguém me disser que há atração no espinho, de novo serei forçado a concordar.

Tudo é uma questão de momento.

Há dias em que arrastamos pela poeira dos nossos passos todas as coisas colhidas ao longo do caminho. Arrastamos, sobretudo, os nossos pecados e os nossos medos; arrastamos nossos erros e nossas incertezas. E então descobrimos que há momentos em que as flores não tornam mais suave a caminhada. Mas descobrimos também, ou já o sabemos desde cedo, que não importa as pedras que atirem sobre os nossos sonhos ou sobre as nossas cabeças. É preciso caminhar.

Assim é a vida. É preciso caminhar mesmo que na nossa bagagem levemos as renúncias de todos os sonhos deixados pra trás, as frustrações de todas as oportunidades perdidas, os desapontamentos de todas as portas fechadas, ou, quem sabe, a terrível mágoa de todos os "nãos" recebidos. Imerecidamente recebidos. E tudo isso se não cega os olhos da carne, cega os olhos da alma. E não importa a beleza da paisagem se a alma triste já não se contenta em apenas navegar, mas quer como diria um sonhador ao menos um verso para cantar a sua dor.

Não teria Saint-Exupéry razão quando diz que só se vê bem com o coração? Os olhos distinguem as flores e o coração, a beleza. Pois é, a beleza. Ela está aí nas flores, nos sonhos, nos versos, na vida. Mas no final das contas livre de todos os fardos o coração nunca vai estar. Sempre existirá uma saudade, uma querença, uma desilusão a lhe entorpecer. Resta, digamos, ao coração humano, entender que não importa o quão envolvente seja a noite, sempre haverá a perspectiva de um dia, de um novo começo, com todas as chances a que temos direito.

Por isso é que se há momentos em que nos passa despercebida toda a primavera como na letra daquela canção, também há momentos em que a alegria nos sorrir. Não porque a conquistamos, mas porque tudo na vida é efêmero. E apesar das renúncias, das frustrações, dos desapontamentos e mágoas, conseguimos ver no espinho o que não víamos nas flores. Não seria apenas manifestação da alegria por assim dizer, mas o insensato coração que aprendeu durante a travessia que a tristeza existe apenas por um momento e existe apenas em nós mesmos.

A vida é feita de momentos. Por mais desgastada que esteja a frase não há nada de mais óbvio que se possa escrever. É isso mesmo: a vida é feita de momentos. Por isso é que sempre haverá o dia em que estaremos encantados com o espinho e o dia em que seremos indiferentes à flor. Mas acima de tudo é preciso prosseguir na caminhada sem esquecer-se de semear sonhos ou flores, não importa, mesmo que a nossa dor ou a nossa insensatez por algum momento, algum dia, não nos permita ver os caminhos que florirem

domingo, 3 de janeiro de 2010

Quando o verde não simboliza a esperança ( por Joel dos Anjos )

Para você, o que simboliza o verde? A esperança? Não dá. Pelo menos para os profissionais de educação do município de São José do Campestre, o verde simboliza o medo e a incerteza. A exemplo do ano de 2008, os professores ficaram a ver navios, sem o salário do mês de dezembro e a inusitada promessa de receberem seus vencimentos só em janeiro de 2010. Se tivermos sorte o sindicato conseguirá parcelar tudinho em 10 vezes sem juros.
Vem de Gandhi a lição: "se queremos progredir não devemos repetir a história, mas fazer uma história nova." Eu sei, todos esses avisos são inúteis. Não existe interesse em fazer uma história nova, mas maquiar a antiga; pintá-la talvez com as cores da frustração e da incerteza. A mesma frustração e incerteza de um ano atrás.
A nós professores resta-nos sonhar com o dia em que seremos respeitados. Vê que nem falamos do sonho de sermos valorizados. Eu disse sonho? Talvez seja mesmo um ofício esse de atirar sonhos ao vento. Deixemos que atirem pedras sobre os nossos sonhos. Esse é o ofício de que tem muito pouco ou quase nada a oferecer.
Mas além dos sonhos resta-nos também uma certeza. Uma amarga certeza. Talvez a mais cruel de todas as certezas: em se tratando de educação a esperança é a primeira a morrer. Que pena!