domingo, 31 de janeiro de 2010

O tempo e o vento ( por Joel dos Anjos, setembro de 2002 )

Esqueço, renuncio
Mas há um sonho que não morre.
Que resiste aos ventos
Como se tivesse raízes.

Me entusiasmo, desfaleço
Mas há um sonho que não morre.
Que se sustenta no tempo
Como se fosse eterno.

Sonho incansável, imperturbável sonho!
Não sobreviverás a mim
Que sendo frágil - sou tua raiz!
Que sendo efêmero - sou teu tempo!

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Uma questão de momento ( por Joel dos Anjos )

Se alguém me disser que não há beleza nas flores, eu concordarei; mas se algum tempo depois esse mesmo alguém me disser que há atração no espinho, de novo serei forçado a concordar.

Tudo é uma questão de momento.

Há dias em que arrastamos pela poeira dos nossos passos todas as coisas colhidas ao longo do caminho. Arrastamos, sobretudo, os nossos pecados e os nossos medos; arrastamos nossos erros e nossas incertezas. E então descobrimos que há momentos em que as flores não tornam mais suave a caminhada. Mas descobrimos também, ou já o sabemos desde cedo, que não importa as pedras que atirem sobre os nossos sonhos ou sobre as nossas cabeças. É preciso caminhar.

Assim é a vida. É preciso caminhar mesmo que na nossa bagagem levemos as renúncias de todos os sonhos deixados pra trás, as frustrações de todas as oportunidades perdidas, os desapontamentos de todas as portas fechadas, ou, quem sabe, a terrível mágoa de todos os "nãos" recebidos. Imerecidamente recebidos. E tudo isso se não cega os olhos da carne, cega os olhos da alma. E não importa a beleza da paisagem se a alma triste já não se contenta em apenas navegar, mas quer como diria um sonhador ao menos um verso para cantar a sua dor.

Não teria Saint-Exupéry razão quando diz que só se vê bem com o coração? Os olhos distinguem as flores e o coração, a beleza. Pois é, a beleza. Ela está aí nas flores, nos sonhos, nos versos, na vida. Mas no final das contas livre de todos os fardos o coração nunca vai estar. Sempre existirá uma saudade, uma querença, uma desilusão a lhe entorpecer. Resta, digamos, ao coração humano, entender que não importa o quão envolvente seja a noite, sempre haverá a perspectiva de um dia, de um novo começo, com todas as chances a que temos direito.

Por isso é que se há momentos em que nos passa despercebida toda a primavera como na letra daquela canção, também há momentos em que a alegria nos sorrir. Não porque a conquistamos, mas porque tudo na vida é efêmero. E apesar das renúncias, das frustrações, dos desapontamentos e mágoas, conseguimos ver no espinho o que não víamos nas flores. Não seria apenas manifestação da alegria por assim dizer, mas o insensato coração que aprendeu durante a travessia que a tristeza existe apenas por um momento e existe apenas em nós mesmos.

A vida é feita de momentos. Por mais desgastada que esteja a frase não há nada de mais óbvio que se possa escrever. É isso mesmo: a vida é feita de momentos. Por isso é que sempre haverá o dia em que estaremos encantados com o espinho e o dia em que seremos indiferentes à flor. Mas acima de tudo é preciso prosseguir na caminhada sem esquecer-se de semear sonhos ou flores, não importa, mesmo que a nossa dor ou a nossa insensatez por algum momento, algum dia, não nos permita ver os caminhos que florirem

domingo, 3 de janeiro de 2010

Quando o verde não simboliza a esperança ( por Joel dos Anjos )

Para você, o que simboliza o verde? A esperança? Não dá. Pelo menos para os profissionais de educação do município de São José do Campestre, o verde simboliza o medo e a incerteza. A exemplo do ano de 2008, os professores ficaram a ver navios, sem o salário do mês de dezembro e a inusitada promessa de receberem seus vencimentos só em janeiro de 2010. Se tivermos sorte o sindicato conseguirá parcelar tudinho em 10 vezes sem juros.
Vem de Gandhi a lição: "se queremos progredir não devemos repetir a história, mas fazer uma história nova." Eu sei, todos esses avisos são inúteis. Não existe interesse em fazer uma história nova, mas maquiar a antiga; pintá-la talvez com as cores da frustração e da incerteza. A mesma frustração e incerteza de um ano atrás.
A nós professores resta-nos sonhar com o dia em que seremos respeitados. Vê que nem falamos do sonho de sermos valorizados. Eu disse sonho? Talvez seja mesmo um ofício esse de atirar sonhos ao vento. Deixemos que atirem pedras sobre os nossos sonhos. Esse é o ofício de que tem muito pouco ou quase nada a oferecer.
Mas além dos sonhos resta-nos também uma certeza. Uma amarga certeza. Talvez a mais cruel de todas as certezas: em se tratando de educação a esperança é a primeira a morrer. Que pena!