quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Gentílico campestrense (por Joel dos Anjos)

Viajo em ti, Campestre,
para te reencontrar.
Refaço os teus caminhos
para redescobrir os teus sonhos
guardados em casa alpendrada*
quando eras ainda semente,
esboço, vaga promessa...
Viajo em ti, Campestre,
e me reencontro.
Refaço os teus caminhos
e me redescubro
porque somos homem e terra
e somos um só.
Temos uma só alma,
somos dotados da mesma vontade,
dos mesmos sonhos,
dos mesmos ideais.
O que te engrandece me faz maior,
o que te impulsiona
também me preenche de estímulo,
o que te eterniza
faz de mim imortal.
Viajo em ti, Campestre,
incessante viajor
a recompor a tua História.
Venho de muito longe:
- Sou José Antônio**
audaz pioneiro.
À margem do teu rio
ergui minha morada;
mas também sou muitos:
andante, peregrino, hóspede de Fisa,***
poeta do povo a cantar a vida.
Ah, como esta hora é passada!
Longínqua paisagem
guardiã do tempo e da memória.
Viajo em ti, Campestre!
Busco não um motivo para amar-te,
mas um modo de dizer-te;
dentro de mim toda a ânsia
de um filho ausente:
todas as minhas horas
são para sonhar-te.
Pertenço-te!
Sois vós o berço e o lar;
sois vós o trabalho e o pão;
sois vós a terra, a semente e o fruto;
sois vós o sonho e a realização;
sois vós o refúgio na renúncia;
sois vós o porto
onde se abrigam os abstratos
navios da minha infância.
Vós, eternamente vós
direção constante do meu destino.
_________________
* Uma casa alpendrada, primeira de São José do Campestre, deu orígem a atual Rua José Antônio.
**José Antônio foi o pioneiro. Sua propriedade, denominada Campestre, situada à margem do Rio Jacu, deu orígem ao município de São José do Campestre.
***O hotel de Fisa Amador, primeiro do povoado, recebia compradores de gado, comerciantes e também poetas cantadores que vinham para a feirinha local.

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