domingo, 19 de dezembro de 2010

O pensamento e o pensador (por Joel dos Anjos)

"Não se pode falar de educação sem amor." - Paulo Freire -
Algumas frases marcam. Muitos políticos se tornaram célebres pelas suas frases. Quem não se lembra do Juscelino Kubitschek e a sua famosa frase "O Brasil vai crescer cinqüenta anos em cinco"? Juscelino falou com a autoridade de quem sabia o que estava propondo ao país e a sua gente. Não foi uma frase solta ao acaso, desprovida de intencionalidade e compromisso.
Lembro-me que o último general-presidente João Baptista Figueiredo disse preferir "o cheiro dos cavalos ao cheiro do povo". Uma frase que revela desprezo pelas massas, própria de uma elite arrogante e anti-povo.
A ex-primeira-dama do Brasil, Rosane collor, disse se referindo à sua lua-de-mel: "vamos passar quinze dias no Egito e depois vamos ao Cairo".
Não tem jeito. Ingênuas, engraçadas, estúpidas, sofisticadas, pensadas as frases estão aí e se engana quem pensa que mesmo as mais tolas não nos dizem nada. Por trás de cada frase está a alma do pensador e, por meio delas, é possível estabelecer, quando pouco, a sutil diferença entre aparência e essência, opinião e saber.
Quando o assunto é educação a regra é entender que o maior bem que uma cidade pode ter é seu povo educado. O educador Anísio Teixeira costumava dizer que "educação é vida no sentido mais autêntico da palavra". Basta lembrar que Anísio Teixeira é considerado o maior idealizador das mudanças que marcaram a educação brasileira no século XX.
Para John Dewey "educação não é preparação para a vida, é a própria vida". O filósofo Comênio chamava as escolas de "oficinas da humanidade". Comênio foi o primeiro teórico a respeitar a inteligência e os sentimentos das crianças. Nomes como o de Comênio, John Dewey, Anísio Teixeira, Paulo Freire mudaram o jeito de pensar e fazer educação.
Mas alguma coisa falhou. Quando ouço dizer que "a educação é o câncer de Campestre" - uma frase crua, absurda, inimaginável, que caminha na contramão de tudo que penso sobre educação - eu me pergunto sobre a inspiração que levou alguém a pensar tal coisa. Terão as escolas deixado de ser "as oficinas da humanidade"? Não. As escolas continuam a aprimorar a vida social, a ajudar na formação moral, a aperfeiçoar a personalidade, a transmitir conhecimentos, a enriquecer o caráter, a libertar. Então o que aconteceu?
O mestre Paulo Freire tinha razão: "não se pode falar de educação sem amor". Luc de Clapiers dizia que "os grandes pensamentos vêm do coração". Só os grandes pensamentos. A inimaginável frase não poderia jamais ter nascido do coração, mas da indiferença. Não digo do ódio. Porque "o oposto do amor não é o ódio, mas a indiferença" já nos ensinava o poeta.
Não terá sido a indiferença responsável pelo atraso do início do ano letivo? E esta mesma indiferença não terá antecipado em doze dias o seu final? A irregularidade dos transportes escolares não terá sido motivada pela indiferença? E a merenda escolar? Racionada, de qualidade inferior, não terá chegado às escolas pelas mãos da indiferença?
Educação e desenvolvimento são palavras indissociáveis, curioso que ainda haja espaço para a indiferença. E aqui poderíamos acrescentar uma frase final: "Educação nunca foi despesa. Sempre foi investimento com retorno garantido". E com esta certeza nos lançarmos na direção da reflexão, do pensamento, da liberdade, das sugestões da esperança.

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