terça-feira, 18 de junho de 2013

O que dizem as ruas (por Crispiniano Neto)

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Vinícius Wu, secretário-geral de governo do Rio Grande do Sul, recomenda em artigo publicado no site Cartamaior que os dirigentes políticos do campo progressista evitem reproduzir aqui os erros da esquerda espanhola que, inicialmente, criminalizou o 15-M e terminou falando sozinha nas últimas eleições. E alerta que também seria recomendável não outorgar, de forma alguma, às elites brasileiras uma capacidade de mobilização que ela não possui. Diz que é preciso urgentemente refutar a ideia de que os jovens estão nas ruas em função da mídia ou de qualquer tipo de conspiração das "elites". Admitir que este é o motivo, diz ele, é o primeiro passo para cair em um erro elementar. Wu alerta que a forma menos adequada de buscarmos a compreensão de um fenômeno social complexo é a simplificação. E diz que não encontraremos uma única motivação para os recentes protestos que se espalharam pelas principais cidades do país e agora por outras cidades do mundo. Avalia que temos questões mais gerais e universais ao lado de outros muitos temas locais e setoriais. Há aspectos que aproximam os manifestantes de São Paulo aos do Rio e de Porto Alegre e, outros tantos, que os distanciam. Vinícius diz que o que se pode dizer preliminarmente é que estamos diante de uma expressão política do novo Brasil. A revolução democrática, levada a termo pelos governos Lula, redefiniu a estrutura de classes da sociedade brasileira, incluiu milhões de brasileiros à sociedade de consumo e possibilitou a emergência de novas expressões culturais e políticas. Mas o inédito processo de inclusão social e econômica ainda é imperfeito, inconcluso e contraditório. As dinâmicas políticas decorrentes do processo massivo de inclusão social em curso ainda são imprevisíveis, mas algumas pistas são visíveis e exigem da esquerda brasileira uma reflexão mais adensada. Os dez anos de governo de esquerda no país nos deixam um legado de grandes conquistas, entretanto, há incerteza e imprecisão quanto aos próximos passos. Demandas históricas não atendidas carecem de respostas mais amplas. Além disso, novas questões sempre se impõem num cenário de conquistas sociais e políticas. Pois, se é verdade que os governos do PT incluíram milhões e possibilitaram acesso a inúmeros serviços antes inacessíveis, também é verdade que temos, em diversas áreas, serviços de baixa qualidade e, fundamentalmente, caros. São muitos os problemas não resolvidos e é evidente o avanço da direitização da política no Brasil. O governo fica meio acuado diante da ofensiva de propostas como as de Marco Feliciano, a volta do aumento da taxa de juros e a desaceleração do processo desenvolvimentista, a paralisação da reforma agrária e a mídia sempre criminalizando os movimentos sociais e criando um clima de terrorismo econômico com fins políticos. Este caldo de cultura não pode dar em boa coisa. O sinal amarelo está aceso.

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