segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Crônica para a data esquecida (por Joel dos Anjos)

O calendário na parede marcava 23 de dezembro. Parecia impossível o esquecimento. As horas passavam e arrastavam os minutos plenos de expectativa: alguém irá lembrar. Alguém menos atarefado, alguém menos vazio, alguém sem nome, anônimo como o gesto nobre que ninguém sabe de onde parte mas que todos enaltecem. Porém o silêncio manso, o silêncio de veludo que deslizava pelas ruas denunciava o esquecimento.
A manhã suspirou seus últimos raios de vida e veio o tédio do meio-dia. E aí vale lembrar o verso do poeta chileno: "É tão longo o esquecimento". As horas mortas da tarde caíram como um espelho, trazendo no corte dos seus reflexos as nossas dores e alegrias. Ninguém se lembrou. Nenhum aplauso, nenhum poema, nem um trecho do Hino Nacional a nos comunicar que era 23 de dezembro.
O 23 de dezembro passou como um dia qualquer. Em breve alguém irá lembrar-se dele como um dia de sorte ou um dia de azar. Um dia a mais na turbulenta existência.
E a cidade adormeceu como um velho artista esquecido, à espera de um aplauso. A cidade adormeceu como um colecionador de medos, de sonhos que nunca se realizarão.

Primeiros minutos do dia 24 de dezembro de 2012

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