quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Por que as mudanças climáticas são invisíveis (por Alexandre Mansur)


Um dos aspectos mais traiçoeiros das mudanças climáticas é que seus impactos mais danosos são, muitas vezes, invisíveis a olho nu. Os eventos extremos como o furacão Sandy chamam atenção. Mas são apenas parte do problema.
Uma das consequências previstas pelos cientistas são mudanças nos padrões de chuva. Não quer dizer que vá chover canivetes. Nem que a enxurrada subirá dois metros do dia para a noite. Embora isso também pareça estar acontecendo, como mostrou a tragédia na Região Serrana do Rio de Janeiro, há dois anos. Elas acontecem em períodos longos. A floresta não vai virar sertão de um ano para o outro. Mas os efeitos podem ser bem graves.
Basta considerar uma das possibilidades levantadas pelos modelos de computador que simulam possíveis mudanças nos padrões de chuva no Brasil. Uma dessas alterações seria uma redução drástica na média anual de chuvas em algumas regiões. Projeções feitas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram que há uma tendência à redução de chuvas no centro-leste e no sul da Amazônia, principalmente devido ao aumento na frequência e intensidade dos dias secos consecutivos. Essas projeções coincidem com as previsões feitas pelo IPCC, o painel de ciência do clima da ONU.
Isso seria em parte agravado pelo avanço no desmatamento da Amazônia. “As mudanças nos padrões e nos regimes de precipitação poderão também afetar as vazões dos rios; e os estudos existentes sugerem que o mais afetado será o rio São Francisco, onde a redução de chuvas irá resultar em uma dramática diminuição das descargas e, conseqüentemente, impactará fortemente a irrigação e a geração de energia”,escrevem os pesquisadores José Marengo, Javier Tomasella e Carlos Nobre, do Inpe. Ao longo deste século, o rio São Francisco pode ficar com algo entre 73% e 30% da vazão atual.
Se chover um pouco a menos em um ano, uma pessoa comum não percebe isso no dia a dia. Você pode passar um mês num lugar desses sem notar diferença. Vai fazer calor, fazer sol, chover como se fosse um ano comum. Mas ao longo dos meses o fluxo dos rios diminui, a umidade do solo reduz e as safras vão quebrando. Se isso ocorre um ano é bem ruim. Mas os grandes agricultores conseguem assimilar aquele ano anormal e apostar numa recuperação na próxima safra. Mas se a redução nas chuvas persiste por outros cinco anos, toda economia daquela região está em risco.
Alguns temem que um fenômeno equivalente esteja em curso no Meio-Oeste americano. O prognóstico divulgado pela NOAA, agência oficial americana de atmosfera e oceanos, não é otimista. Prevê que a situação geral de seca, que se alonga desde 2011, deve continuar este ano. Em janeiro, 58% das terras nos 48 estados do sul sofriam com condições anormais de seca. Um pouco melhor do que os 60% nas semanas anteriores. Desde junho de 2012, mais da metade dos Estados Unidos está sob condições de seca. Um estudo divulgado recentemente pelo governo mostra que, com o aquecimento global, as perspectivas para as próximas décadas são de secas mais frequentes e mais severas, com consequências para o abastecimento de água e para a agricultura. (Na foto acima, um rio seco na Califórnia.)
Esse pode ser um dos motivos para a renovada intenção do presidente Barack Obama para acelerar medidas que reduzam as emissões de gás carbônico, responsáveis pelas mudanças climáticas. Algumas consequências das alterações no clima já são inevitáveis para as próximas décadas. Mas os impactos mais severos ainda podem e devem ser evitados.
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Fonte: Blog do Planeta

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