Tenho todo o respeito do mundo pelos manifestantes e pelas
manifestações, ressalvados os injustificáveis atos de vandalismo e a falta de
semancol quanto ao momento certo de parar. Confesso que me senti novinho,
quando, na semana atrasada, fiquei em cima de um viaduto em Natal, assistindo à
massa passar em protesto, com milhares de cartazes, arrastando centenas de
reivindicações que mexem com os mais diferentes poderes. É evidente que grande
parte dos que estão nas ruas, inclusive alguns que se manifestam pacificamente,
são usuários de drogas, mas com medo de encarar um assunto tabu, não querem
levantar a bandeira, esquecendo que o problema não são eles, mas o tráfico que
eles sustentam. Vejam na Internet o artigo “Nós, os que matamos Tim Lopes”, do
poeta Affonso Romano de Santana. Lendo-o fica fácil entender o que digo. O
poeta acusa, com muita propriedade e argumentos, o jovem que “vai ao banheiro
cheirar uma carreirinha de pó”, como se estivesse fazendo a coisa mais inocente
do mundo, acusa a elite que “dá festas elegantes servindo ecstasy em bandejas”,
quem “dá suas cafungadas, porque isto faz parte da ‘nite’, o artista e
intelectual que curte seu pozinho e faz elogio de um equivocado conceito de
marginalidade estética”, o jornalista “que curte sua droguinha de vez em
quando”, o músico que para embalar seus shows “entra no barato”, o policial,
que “pactua com o crime e recebe propinas do tráfico”, o advogado que “defende
traficantes”, o juiz relapso que “neglicencia processos de traficantes”, o
político demagogo e clientelista, que só se aproxima da favela para tirar
votos, os que “fizeram a política recessiva, que abria empregos no tráfico”,
enfim todos, de terem matado Tim Lopes. Acusa a todos eles de terem matado Tim
Lopes, por sustentarem o esquema criminoso que faz circular a droga e infernizar
a vida de milhões de famílias e rouba um bom pedaço do futuro do Brasil.
Lembrou no artigo em 2002, que “essa guerra” já durava 30 anos. Agora,
portanto, 41 anos. Não é de se admirar que a droga, com o avanço tecnológico do
aproveitamento da borra da cocaína e a corrupção policial e judiciária tenha
crescido assustadoramente. E olha que o artigo, é de apenas 11 anos atrás, mas
ainda nem fala em crack. Cabe, portanto acrescentar que, para sustentar o
sistema é preciso mais que um baseado, uma fungadinha, um trago no cachimbo,
uma lombra... É preciso ter altas autoridades policiais, políticos influentes,
“vestais” das altas esferas do Judiciário e gente cretina que, independente da
ideologia ou partidos permanecem à frente das três esferas de governo, estão
lá, sempre a serviço do mal. Não listar a droga da droga entre as bandeiras de
luta destas gigantescas manifestações é a prova de que, os movimentos são por
demais alienados da realidade ou, muitos deles estão entre aqueles que Affonso
Romano acha que mataram Tim Lopes.
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¹Por Crispiniano Neto
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