Rio de Janeiro – Passados dois anos das fortes chuvas que
provocaram enxurradas e desabamentos na região serrana fluminense, deixando 900
mortos, pouco foi feito para recuperar áreas atingidas e minimizar os impactos
de um novo desastre, na avaliação de especialistas. Em meio à temporada de
chuvas, que se estende até março, a recomendação é investir em abrigos e
sistemas de alerta.
Após o temporal que causou tragédia e comoção, o governo
federal repassou R$ 106 milhões para obras de reconstrução no estado do Rio de
Janeiro. Pouco mais da metade foi liberada e R$ 47 milhões permanecem
empenhados, segundo dados do Ministério da Integração Nacional. Para não perder
R$ 32 milhões, o governo do estado pretende prorrogar um convênio que termina
em março.
Segundo o presidente do Conselho Regional de Engenharia e
Agronomia (Crea-RJ), Agostinho Guerreiro, intervenções deveriam ter sido feitas
antes do período de chuvas neste verão, que começou em dezembro, como contenção
de encostas, dragagem de rios e monitoramento da bacia hidrográfica, para
controlar possíveis enchentes e diminuir a força das enxurradas.
“Até plantio de grama em alguns lugares seria uma medida
importante e muito barata”, disse Agostinho, que coordenou visitas técnicas
sobre o andamento das obras nas cidades atingidas pela tragédia nos dois
últimos anos. “A região serrana teve uma melhora muito pequena em relação a
tudo que precisava ser feito e continua muito frágil às chuvas”, acrescentou.
Ações na área ambiental, como o reflorestamento, para impedir
que a erosão do solo se acentue e aumente a impermeabilidade do terreno
continuam sendo necessárias. No relatório, de um ano atrás, o Crea-RJ também
sugeria um sistema de monitoramento de dados climáticos e meteorológicos que
permitisse ações mais rápidas da Defesa Civil e o consequente menor impacto dos
problemas causados pelas chuvas sobre os moradores.
“Com o desmatamento que houve nas cabeceiras de rios na
parte altas das montanhas, a tendência, quando chove muito, é a água descer com
uma velocidade até 15 vezes maior a que a mesma quantidade de água descia há 40
anos, porque não encontra obstáculo”, explicou Guerreiro.
Especialista em situações de risco, o professor da
Universidade Federal do Rio de Janeiro Moacyr Duarte cobra uma divulgação mais
rápida dos sistemas hidrológicos e meteorológicos nas áreas de risco nos
municípios. “No manejo de uma pequena cidade, precisamos saber aonde a chuva
vai se formar e vai cair para concentrar atenção. Isso está melhorando, mas não
é suficiente”, disse.
Na avaliação de Duarte, obras simples de engenharia como a
reconstrução de pontes, das quais 10 de 62 foram entregues, também poderiam
estar avançadas se a burocracia não se refletisse em atraso. Ele aponta vícios
em licitações e a dificuldade de os municípios elaborarem projetos técnicos
consistentes como os principais entraves para conseguir verbas federais.
De acordo com o governo do Rio, das pontes que precisavam
ser reconstruídas, além das dez prontas, mais 10 serão entregues em fevereiro e
42 estão em fase de licitação.
A Secretaria Estadual de Obras alega que a magnitude da
tragédia dificultou a elaboração de projetos. “As chuvas causaram grandes
danos, exigindo aprofundados estudos geológicos, de sondagem e topografia”,
afirma em nota. A grandiosidade do ocorrido alterou curso e vazão de rios
“impossibilitando o uso de estudos até então existentes”, justifica.
Procurado, o Ministério da Integração Nacional não comentou
as críticas para diminuir a burocracia na apresentação dos projetos e acelerar
a liberação de recursos em desastres.
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Fonte: Agência Brasil
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