Concordo com Daniel Bramatti, do Estadão, quando diz que sem
um Congresso Constituinte não teremos reforma política nenhuma. Quando muito
teremos um vergonhoso arremedo. O PT sonha com esta reforma há décadas. Tentou
na oposição e não conseguiu, tentou no Governo com Lula e não conseguiu, agora
vinha tentando através de um abaixo assinado cuja primeira assinatura é a de
Lula e que caminhava para reunir 1,5 milhão de autógrafos. E eis que milhões de
pessoas vão às ruas de dezenas de cidades e pedem, entre muitas bandeiras, a
reforma política, ou, várias bandeiras que dela dependem. Dilma virou o jogo,
assumiu o protagonismo do embate na conjuntura adversa quando disse que
apoiaria a convocação de um plebiscito para o povo brasileiro, de quem deve
emanar todo poder, decidir sobre a composição de um Congresso Constituinte
específica para este fim. Os inimigos do governo, do povo e da Pátria, tremeram
nas bases. E agora vem a turma do “Deixa disso” e tenta reverter a pauta,
sugerindo que é possível, que esse “Exército de Brancaleone”, esse Congresso
com raras exceções, “prostituinte”, possa se transformar num passe de mágica,
em congresso constituinte. A dupla Henrique e Renan tirou da poeira do baú
alguns projetos simpáticos para votar e ganhar tempo, dar os anéis para não
perder os dedos. E já tem quem ache que a carne podre ficou sã. Ou, pelo menos
que engulamos esta conclusão tão precipitada quanto burra. Cá com meus sofridos
e escabreados botões, recuso-me a crer que a água vira vinho sem a presença de
Jesus em pessoa querendo animar as bodas e mostrar que tem a força. Há uma
sesquipedal diferença entre Caná e canalhas... Sarney fez o Plano Cruzado, pôs
o povo a fechar supermercados, quebrou um imenso tabu reatando relações com
Cuba, mas não conseguiu mexer em reforma política. Fernando Henrique fez a
própria reeleição, quebrou o monopólio do petróleo, fez uma reforma troncha da
previdência, castrou os direitos dos servidores públicos, mudança nos impostos.
Transparência, fim do poder econômico nas eleições, mais austeridade e deveres
para os parlamentares? Isso, nunca! “Quem legisla em causa própria não faz
reforma”, sentenciou Lula, em 2006. Sem constituinte, porém, vai continuar a
prevalecer aquilo que o vice-presidente Michel Temer disse: “É muito difícil,
porque é uma questão praticamente individual. Cada deputado e senador pensa –
precisamente e legitimamente – em seu futuro”. É essa a questão, claramente.
“Todo o poder emana do povo e em seu nome é exercido”, diz a Constituição em
vigor. Bem diz, na matéria do Estadão, o deputado Henrique Fontana: “Por
acordo, não votaremos nem em dez gerações”. Ou, para ter um acordo, votaremos
algo que nos envergonhará por dez gerações.
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