Em longo artigo assinado pela colunista Samantha Pearson, o
jornal britânico Financial Times examina a adoção de slogans publicitários
pelos manifestantes que vêm tomando as ruas de diversas cidades brasileiras no
último mês.
A publicação lembra que o uso de motes de campanhas em
protestos não é uma novidade em protestos em todo o planeta.
"Mas os manifestantes no Brasil tomaram um caminho
incomum, usando os populares slogans para defender causas não relacionadas (aos
slogans). É um sinal, dizem sociólogos, de excessivo consumismo e alienação
política", observa o FT.
Ao se referir às frases "O gigante acordou",
extraída da campanha do uísque Johnny Walker, e "Vem pra rua, vem",
dos anúncios da Fiat, o FT diz que os slogans se converteram em "um dos
poucos elementos a unificar os direferentes grupos que tomaram as ruas de mais
de 100 cidades no Brasil este mês".
"Sem esforço, a italiana Fiat e a britânica Diageo,
dona da marca de uísque Jonnhy Walker, se tornaram patrocinadores não oficiais
dos maiores protestos no Brasil desde o movimento pelo impeachment de Fernando
Collor de Melo, em 1992".
"Mas a publicidade gratuita vale a pena?",
questiona a publicação, antes de afirmar que no fim das contas as empresas
acabam vendo suas marcas conectadas a protestos pacíficos mas também a
vandalismo e saques.
No caso da Fiat, destaca o jornal, a prioridade dada pelo
governo ao transporte individual particular - e não ao coletivo - é parte da
origem dos protestos, originados pelo aumento das tarifas de transporte
público.
O professor de mídia da Universidade de São Paulo Dennis de
Oliveira explicou o fenômeno ao FT.
"Muitos dos manifestantes não têm qualquer conexão com
partidos políticos, então eles tomam emprestadas expressões do mundo no qual
eles estão imersos- e nos últimos anos este tem sido o mundo do consumo",
diz o acadêmico.
"Depois de uma década de alto crescimento econômico,
não surpreende a adoção de slogans" que, além de ajudar a traduzir "o
desencanto com o sistema político", "são também uma expressão do
mal-estar do modelo de desenvolvimento baseado no consumo", sublinha o
jornal, ao citar a avaliação do professor da Fundação Getúlio Vargas Rafael
Alcadipani.
"Carros, máquinas de lavar, e TV de plasma não são mais
suficientes: Brasileiros querem melhores serviços públicos e governo",
conclui o Financial Times.
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Fonte: BBC Brasil
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