Denunciado há 11 dias pela Procuradoria-Geral da República
por três crimes, o novo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), não
está só. Mais da metade dos 11 recém-eleitos integrantes da Mesa Diretora da
Casa está na mira do Supremo Tribunal Federal (STF). Além de Renan, também
estão na lista de investigados os dois novos vice-presidentes, Jorge Viana
(PT-AC) e Romero Jucá (PMDB-RR), o 1º secretário, Flexa Ribeiro (PSDB-PA), e os
suplentes da Mesa Jayme Campos (DEM-MT) e Magno Malta (PR-ES). A situação não
difere muito na Câmara, onde três deputados eleitos ontem (4) para os cargos
diretivos também respondem a inquérito ou ação penal no Supremo. Ou seja, mais
de um terço dos integrantes do novo comando do Congresso terá de conciliar as
atividades do mandato com as explicações devidas à Justiça.
A lista de denúncias que recaem sobre esses parlamentares é
diversificada: há desde crimes eleitorais, contra a ordem tributária, a Lei de
Licitações e o meio ambiente, até tráfico de influência, falsificação de
documento e desvio de verba pública. Além do poder de influenciar diretamente
os rumos do Parlamento, os integrantes das Mesas têm sob seu controle duas
poderosas máquinas administrativas, cujo orçamento total deve beirar os R$ 9
bilhões este ano.
Mas os integrantes da Mesa com pendências no Supremo não são
os únicos com problemas na Justiça. Mesmo não tendo pendência na mais alta
corte do país, o novo presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN),
responde a processo por enriquecimento ilícito numa ação de improbidade
administrativa que tramita na 16ª Vara Federal em Brasília. Em outro caso, ele
tenta reverter uma condenação imposta em primeira instância, que, em 2011, suspendeu
seus direitos políticos.
Juntos, os integrantes da nova Mesa do Senado respondem a 13
inquéritos (fase preliminar de investigação) e uma ação penal (processo que
pode resultar em condenação). Na suplência, Jayme Campos é réu por uso de
documento falso. Ele enfrenta ainda outros três inquéritos por peculato, crimes
da Lei de Licitações e de responsabilidade. Na Câmara, outro suplente da Mesa
também é réu, o deputado Takayama (PSC-PR). No caso da ação penal, os ministros
entenderam que há indícios de que o acusado cometeu, de fato, os crimes
atribuídos pela Procuradoria-Geral da República.
Sob pressão
O próximo a integrar a lista dos réus pode ser o presidente
do Senado. No último dia 26, conforme revelou o Congresso em Foco, o
procurador-geral da República, Roberto Gurgel, denunciou Renan por três crimes
no inquérito que apura a veracidade dos documentos apresentados por ele para
comprovar, em 2007, que tinha rendimentos suficientes para bancar as despesas
de aluguel e pensão de uma jornalista, com quem tem uma filha.
Os papeis foram apresentados na defesa entregue por Renan ao
Conselho de Ética do Senado para rebater a denúncia que os gastos eram bancados
por um lobista da empreiteira Mendes Júnior. Na denúncia, que será examinada
pelos ministros, Gurgel acusa Renan de ter cometido os crimes de peculato,
falsidade ideológica e uso de documento falso. Caberá ao relator do caso,
Ricardo Lewandowski, elaborar parecer que será analisado pelos demais
ministros.
O presidente do Senado também é investigado em outros dois
casos. No mais recente, como mostrou o Congresso em Foco, é suspeito de ter
cometido crime ambiental em uma unidade de conservação federal no interior de
Alagoas. O Ministério Público Federal o acusa de ter pavimentado uma estrada de
700 metros sem autorização para facilitar o escoamento das produções de sua
fazenda. O outro inquérito tramita em segredo de Justiça.
Vices investigados
Os dois nomes na linha de sucessão de Renan também estão sob
investigação. Primeiro vice-presidente, Jorge Viana é investigado em dois
inquéritos (3236 e 3237) correlatos por crimes eleitorais. Apura-se o
oferecimento de vantagens a eleitores em troca de votos e omissão ou inserção
de declaração falsa em documento para fins eleitorais, além de recebimento de
doação em desacordo com a lei eleitoral.
O segundo vice-presidente, Romero Jucá, figura como
investigado em três inquéritos (2116, 2963 e 3297) por crimes de
responsabilidade, falsidade ideológica, contra o patrimônio e eleitorais. Um
dos procedimentos apura o envolvimento do senador em suposto esquema de desvio
de verbas federais em obras municipais em Roraima.
Em outro inquérito a investigação recai sobre a origem e o
destino dos R$ 100 mil jogados para fora de um carro por um auxiliar do senador
momentos antes de ser abordado por policiais durante a campanha eleitoral de
2010. O auxiliar diz que o dinheiro seria usado na eleição de Jucá. Outro
inquérito verifica se Jucá e familiares usaram “laranja” na compra de uma TV em
Boa Vista.
“Prefeito”
O novo primeiro secretário do Senado, Flexa Ribeiro, é
investigado por crime eleitoral. A investigação apura se uma construtora, da
qual o senador foi sócio, utilizou recursos recebidos do governo estadual para
ajudar os candidatos do PSDB nas eleições de 2002. Em 2004, o senador chegou a
ser preso pela Polícia Federal na Operação Pororoca, acusado de usar essa mesma
empresa em um esquema de fraudes de licitações para obras públicas no Amapá.
“No primeiro parecer, o Ministério Público Federal registra a inexistência de
provas das acusações”, afirma o senador. Na nova função, Flexa atuará como
espécie de prefeito do Senado, cuidando de boa parte da administração da Casa.
A investigação mais recente contra integrante da Mesa no
Senado alcança o senador Magno Malta. Suplente da Mesa, ele é alvo de um
inquérito por crimes eleitorais, autuado em novembro do ano passado. “O senador
não conhece o objeto do citado inquérito”, informa o gabinete de Magno Malta.
Os integrantes da Mesa investigados também não estão sós.
Levantamento divulgado pela Revista Congresso em Foco em julho do ano passado
revelou que nunca tantos parlamentares estiveram, a um só tempo, sob
investigação no Supremo. Em junho, 191 deputados e senadores respondiam a
inquérito ou ação penal no STF.
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Fonte: Jornal Extra de Alagoas
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