sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Doras e Carmosinas

Há momentos em que os anos vividos nos obrigam a olhar em volta e fazer uma revisão das nossas perdas e dos nossos danos. Se hoje estou sendo agraciada com a mais alta condecoração de nosso país, é porque sou resultado de muitas influências e convivências. Centenas de companheiros e personagens me formaram, me educaram e estão comigo sempre. Não me refiro só a minha família de sangue, mas principalmente à minha família de opção...
Mas existe o antes. A infância. E - por que não? - o período da minha formação primária. Acho que é aí que tudo começa. Ao trabalhar o mundo da professora Dora de Central do Brasil, lá na infância é que fui buscar, na minha memória, as primeiras professoras que me alfabetizaram. Credenciadas, respeitadas, prestigiadas professoras primárias da minha infância. Professoras de escolas públicas que eu freqüentei, no subúrbio do Rio.
Eu me lembro especialmente de Dona Carmosina Campos de Meneses, que me alfabetizou. E, mais do que isso, que me ensinou a ler, o que é um degrau acima da alfabetização. Naquele tempo, as professoras ainda se chamavam Carmosinas, Ondinas. Busquei na memória a figura de Dona Carmosina para me aproximar da professora Dora (para mim, personagem não é ficção). E vi como seria trágico se a minha tão prestigiada e amada Dona Carmosina viesse a se transformar, por carências existenciais e sociais, numa endurecida e miserável Dora. Foi essa visão de tantas perdas que me deu o amocional da cena final do filme quando Dora escreve "tenho saudade de tudo".
Saudade é uma palavra forte e uma forma profunda de chamamento, de invocação. Entre Carmosina e Dora lá se vão sessenta anos. Penso que minha vocação de atriz foi sensibilizada a partir das leituras em voz alta, leituras muito exigidas, cuidadas, orgânicas, que nós alunos fazíamos usando os livros de português do antigo curso primário. As primeiras coisas que decorei na vida foram dois poemas que Dona Carmosina mandou (é essa a palavra: mandou) que decorássemos nas férias de dezembro: "Meus oito anos" de Cassimiro de Abreu e "Canção de exílio" de Gonçalves Dias. Na volta das férias naquele ano de 1937, eu, mesmo tímida, envergonhada e encantada declamei: "Oh! Que saudades que eu tenho da aurora da minha vida, da minha infância querida que os anos não trazem mais. Que amor, que sonhos, que flores, naquelas tardes fagueiras, à sombra das bananeiras, debaixo dos laranjais". Essas bananeiras e esses laranjais não eram licença poética. Os subúrbios de nossas cidades ainda não tinha sofrido essa degradação ambiental que infelizmente se faz presente com o passar dos anos. Vi muitos Brasis entre esses meus oito anos, os oito anos do poeta e essas duas mulheres: Carmosina e Dora. Vejo essa passagem de tempo, claro, com alegrias e ganhos, mas também com muitas perdas e dor. Sou atriz e confesso a minha deformação profissional: esse sentimento de perdas, essa nostalgia me ajudarm a resgatar o emocional dessa desprotegida e amarga Dora ao intuir que dentro dessas Doras desiludidas existe sempre uma Carmosina à espera de um ombro e de um socorro.
Senhor presidente, nesta nossa confraternização de artistas e autoridades como não lembrar o milagre que a educação e a cultura produzem em todo ser humano. É este, me parece, o espírito que nos une aqui, neste espaço, e por estarmos diante da mais alta autoridade do nosso país, que é Vossa Excelência, a herança cultural da reivindicação artística e social se apresenta... Mas, Vossa Excelência é um democrata e um professor, por isso peço a Vossa Excelência me dar o direito de não resistir, mesmo porque acredito que estamos numa concordância de vontades. Senhor presidente, precisamos urgentemente de muitas, muitas Carmosinas e, se possível, nenhuma Dora. Vossa Excelência tem poder para transformar as Doras em Carmosinas. O país lhe deu esse poder. Eu tenho um sonho que certamente é também um sonho de Vossa Excelência e de muitos, muitos, muitos brasileiros. Eu tenho um sonho (parodiando o notável reverendo americano) que um dia, realmente, todas as desesperadas Doras serão resgatadas desses ônibus perdidos que atravessam esse nosso sertão de miséria e que a elas será dado nem que seja uma parcela daquele reconhecimento e respeito social das professoras Carmosinas da minha infância. Doras com visão de futuro, com auto-estima, economicamente ajustadas. Professoras Doras inventivas, confiantes, confiantes no seu magistério, para que possam ser amadas como seres humanos e (por que não?) como personagens também. Muito amadas e lembradas por todos os Vinícius e todos os Josués de nosso país. Mesmo assim prefiro as Carmosinas... Que Dora compreenda e me perdoe. Vale a troca. Para o fortalecimento da nossa educação, da nossa cultura, vale a pena, senhor presidente, se a nossa alma, isto é, se a realização do sonho de todos nós, se essa realização não for pequena. Faço de Dora e Carmosina minhas companheiras neste meu agradecimento. Ignorá-las seria desprezar a minha infância e a realidade da minha, não digo velhice, mas da minha madureza.
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Discurso feito pela atriz Fernanda montenegro ao ser homenageada por sua indicação ao Oscar de melhor atriz estrangeira pelo desempenho no filme "Central do Brasil".

terça-feira, 12 de outubro de 2010

O dia da criança (por Joel dos Anjos)

O dia da criança é comemorado em diferentes países do mundo. Cada país escolhe a data de acordo com a história e o significado da comemoração.
Na Índia, o dia da criança é comemorado no dia 15 de novembro; em Portugal e Moçambique, 1º de junho; no Japão e na China, 5 de maio.
Muitos países, no entanto, comemoram no dia 20 de novembro, dia em que o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) oficializou a Declaração dos Direitos da Criança (20 de novembro de 1959). Nesse Documento se estabeleceu uma série de direitos válidos a todas as crianças do mundo independente de raça, credo, cor ou sexo, como o direito à afeição, amor e compreensão, alimentação, saúde, educação gratuita e proteção contra todos os tipos de exploração.
No Brasil, uma lei federal proposta pelo deputado Galdino do Vale Filho, criou em 1924, o Dia da Criança, oficializado pelo presidente Arthur Bernardes através do decreto 4867, de 5 de novembro de 1924.
O dia 12 de outubro foi escolhido por ser também a data em que o navegador Cristóvão Colombo descobriu a América - chamada durante vários séculos de continente-criança, por ter surgido para os europeus apenas no século XV.