sábado, 7 de agosto de 2010

Registre-se, publique-se e cumpra-se (por Joel dos Anjos)

Quero me declarar um tolo. Mas se existe algum consolo para a tolice, eu não sou o único. Arrasto comigo os meus colegas de cruz. Eles também tiveram os seus salários parcelados como se São José do Campestre tivesse uma Constituição própria. Eles também ficaram calados e quando disseram “não”, ingenuamente disseram para ouvidos treinados para ouvir apenas o “sim” dos poderosos. Somos todos tolos. Mesmo eu que não fiz propaganda a favor de um acordo fadado ao fracasso, que me antecipei e anunciei todas as perdas desse acordo, que alertei para o fato de que fazer acordo com esse governo é o mesmo que perder... sou um tolo. Se não o sou por acreditar e compartilhar, o sou por determinação. Determinaram que eu fosse um tolo com todos os danos que o título confere, entre eles, o de trabalhar sem a garantia da minha paga no final do mês.

E agora? O acordo firmado em juízo para pôr em dia o salário dos servidores municipais não foi cumprido. Eu sabia que não seria cumprido. Mas isso não importa. O que importa é que o acordo não foi cumprido. Os servidores municipais que desde o mês de junho vem recebendo seus vencimentos parcelados deveriam receber integralmente agora no mês de agosto, entre os dias dois e seis. É o que reza o acordo. Mas o acordo não foi cumprido. As regras do acordo foram mudadas. Quem determinou que elas fossem mudadas? Enquanto os servidores arcavam sozinhos com o prejuízo, enquanto o acordo foi vantajoso apenas para o gestor ele foi rigorosamente cumprido. Agora que os servidores iriam de fato se beneficiar com o acordo, as regras foram mudadas. E o acordo não foi cumprido. Eu sabia que seria assim. Mas isso não importa.

O que importa é que o acordo não foi cumprido. E que somos todos tolos. E como tolos aceitamos de bom grado um acordo que não fizemos. E até sonhamos. Por muito pouco não saímos às ruas para comemorar: “por me deixar respirar, por me deixar existir, Deus lhe pague”. Afinal de contas “os miseráveis não tem outro remédio a não ser a esperança” já nos ensinava Shakespeare. E fomos levados e nos deixamos levar por uma esperança tola e vã.

É certo que continuaremos a acreditar no improvável. Ora, os tolos são assim. Basta um aceno da mais infundada esperança para que voltemos a sonhar de novo. Não fui a favor do acordo. Não sonhei os sonhos que sonharam com esse acordo por que não acredito num sonho construído com o sacrifício de um direito. Mas isso não importa.