quinta-feira, 29 de abril de 2010

O professor está sempre errado

Quando...
É jovem, não tem experiência.
É velho, está superado.
Não tem automóvel, chora de "barriga cheia."
Fala em voz alta, vive gritando.
Fala em tom normal, ninguém escuta.
Não falta ao colégio, é um "Caxias."
Precisa faltar, é um "turista."
Conversa com outros professores,
Está "malhando" os alunos.
Não conversa, é um desligado.
Dá muita matéria, não tem dó dos alunos.
Dá pouca matéria, Não prepara os alunos.
Brinca com a turma, é metido a engraçado.
Não brinca com a turma, é um chato.
Chama à atenção, é um grosso.
Não chama à atenção, não sabe se impor.
A prova é longa, não dá tempo.
A prova é curta, tira as chances do aluno.
Escreve muito, não explica.
Explica muito, o caderno não tem nada.
Fala corretamente, ninguém entende.
Fala a "língua" do aluno, não tem vocabulário.
Exige, é rude.
Elogia, é debochado.
O aluno é reprovado, é perseguição.
O aluno é aprovado, "deu mole."
É, o professor está sempre errado. Mas se
Você conseguiu ler até aqui, agradeça a ele!

Jornal do Curso de Pedagogia / PUC-MG

segunda-feira, 26 de abril de 2010

O muro que ninguém vê (por Joel dos Anjos)

E a cidade (...) com os punhos fechados da vida real,
Lhe nega oportunidades,
Mostra a face dura do mal...


Todo homem tem direito à instrução. (art. 26 da Declaração Universal dos Direitos do Homem)


A educação, direito de todos e dever do município. (art.124º da Lei Orgânica do Município de São José do Campestre-RN)


“A maioria deles vem de Trenchtown.” Trenchtown é uma comunidade pobre que fica nos arredores de Kingston, capital da Jamaica e é também o título de uma música de Bob Marley. Nesse trecho, Bob Marley denuncia que no mundo existe um grande número de pessoas que vivem esquecidas, largadas à margem. “A maioria deles vem de Trenchtown.”


Trenchtown também poderia ser o nome de todas as comunidades rurais de são José do Campestre. Nessas comunidades está sendo erguido um muro. Não se trata de um muro de concreto. É um muro invisível construído de silêncio e indiferença, mas que separa, distingue, divide, distancia.


Já dissemos aqui que o ano letivo em São José do Campestre começou com um longo e injustificável atraso. Falamos também da nossa preocupação em repor essas aulas. No nosso entendimento todos os alunos foram prejudicados e todos, sem exceção, têm direito à reposição. Isto é tão óbvio quanto somar dois mais dois. Está na cara como se diz.


Aqui se começa a erguer o muro. E tão silenciosamente ele está sendo erguido que ninguém se deu conta da sua construção.


Na quarta feira, feriado nacional, a Secretaria de Educação havia determinado que todas as escolas deveriam funcionar normalmente. Não poderia ter escolhido pior data para a reposição das aulas. Essa determinação revelou um estranho desconhecimento da Historia do país. Ou um tanto pior: revelou desprezo. A única escola a não cumprir com a determinação foi a Escola Jardelina Freire do Nascimento.


Diante desse fato, foi determinado que no sábado, 24 de abril, a Escola Jardelina abriria os seus portões. Mas abriria os seus portões apenas para os alunos da cidade: não foi colocado nem um transporte para os alunos da zona rural. Estava erguido o muro. A educação estava deixando de ser um direito para ser um privilégio.


O que vamos dizer aos nossos alunos da zona rural? Como vamos explicar a nossa própria incoerência? Eu não sei. De distinção, eu confesso que não sei. Mas sei que devemos todos um pedido de desculpas aos nossos alunos da zona rural. Devemos, quem sabe, a promessa – e que ela seja inquebrantável – de não errarmos de novo.


O direito à educação não está associado à cor dos olhos ou da pele, tampouco ao lugar de orígem. A educação, a exemplo do que disse Vernor Muñoz Villalobos, relator da ONU, “não é um serviço a ser prestado, mas um direito básico e fundamental que deve ser respeitado.”

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Patriotismo zero (por Joel dos Anjos)

O ano letivo em São José do Campestre começou com 15 dias de atraso. Falta de merenda e problemas relacionados com o transporte escolar foram apenas algumas das justificativas para o injustificável atraso. O fato é que em nenhuma das justificativas apresentadas pela Secretaria de Educação se pode apontar o professor como culpado. Foi um problema de gestão, alheio à vontade e à competência do professor.

Mas não se trata de elegermos culpados ou inocentes. Nossa preocupação é mais profunda, mais significativa por assim dizer. Como os nossos alunos serão compensados? A Secretaria de Educação determinou que nesta quarta feira, 21 de abril, feriado nacional, dia dedicado ao herói da inconfidência mineira, as escolas funcionassem normalmente, sob pena de cortar o ponto dos professores faltosos. Não sei se ache incrível ou lamentável que a Secretaria de Educação não conheça a História do país. Que Tiradentes seja esquecido justamente pela instituição que deveria lembrá-lo. Esta não é a lição que devemos oferecer aos nossos alunos: sepultar na frieza do esquecimento a nossa própria História escrita com o sonho e com a vida de homens como Joaquim José da Silva Xavier.

Que as aulas precisam e devem ser repostas, os professores sabem; nenhum professor se furtará a esse chamamento. Mas sem imposição. Sem ferir a legalidade nem o patriotismo.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

O azul dos teus olhos (por Joel dos Anjos)

Quero viver no azul
No profundo azul dos teus olhos.
Quero tocar o azul
O fascinante azul do céu,
Que se confunde com o azul dos teus olhos.
Quero mergulhar no azul
No inebriante azul do mar.
Inda mais fascinante que o azul do céu,
Inda mais profundo que o azul dos teus olhos.
Sobretudo quero viver no azul
No profundo azul dos teus olhos.
Inda mais belo que o azul do céu,
Inda mais belo que o azul do mar!

sexta-feira, 2 de abril de 2010

A nossa merenda de cada dia (por Joel dos Anjos)

Um trabalho realizado em 2003 pela UNICAMP (Universidade Estadual de Campinas) revela que para 50% dos alunos da região Nordeste do Brasil a merenda escolar é considerada a principal refeição do dia. O trabalho foi publicado no site do Ministério da Saúde em 2008. Seria de fundamental importância que os nossos desavisados governantes tivessem a noção exata da importância da merenda escolar na vida de centenas de alunos matriculados nas escolas da rede municipal de ensino.

São José do Campestre é uma porção do Nordeste brasileiro. Aqui vivenciamos todos os dias essa verdade. O trabalho realizado pela UNICAMP vem apenas fundamentar a nossa preocupação. O que não sabemos é como tornar também dos governantes essa preocupação que é só nossa.

No Brasil, particularmente no Nordeste em face da pobreza, a alimentação escolar ganhou uma dimensão social maior. A baixa qualidade da merenda escolar tem influência negativa na aprendizagem porque diminui a capacidade de concentração nas atividades escolares além de contribuir substancialmente para a evasão, ou seja, tem influência direta no fracasso escolar de parte significativa dos nossos alunos.

Um dos mais antigos programas de suplementação alimentar em execução no Brasil, o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) foi desenvolvido a partir de 1954 com o estabelecimento da Campanha da Merenda Escolar (CME). O objetivo do programa é suprir 15% das necessidades nutricionais diárias e contribuir para a redução da evasão escolar. Em 1988 a alimentação escolar passou a ser direito constitucional.

No entanto esse direito está sendo banalizado. A má qualidade dos alimentos distribuídos às escolas da rede municipal de São José do Campestre é um exemplo de negação desse direito e de desatenção e desrespeito àqueles que escreverão o nosso futuro.

A alimentação escolar de qualidade é um direito constitucional dos alunos e um ato pedagógico.